Morreu Nuno Guerreiro (1972-2025)
Escrito por TunetRádio em 17/04/2025
Cantor e intérprete de excelência, Nuno Guerreiro morreu hoje, no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, aos 52 anos, vítima de doença súbida.
Nuno Guerreiro nasceu a 5 de setembro de 1972, em Loulé. Possuidor de um registo vocal de contratenor – “único no panorama pop português e até mundial – teve uma carreira marcada pelas sonoridades soul e rhythm & blues”.
Começou a cantar muito cedo, tendo como influência primordial a fadista Amália Rodrigues. Aos 16 anos foi para Lisboa para frequentar a Escola de Dança do Conservatório. Durante os anos seguintes, cultivou a arte da dança, até que o destino fê-lo cruzar-se com o guitarrista Carlos Paredes. Participou nos concertos do músico, em 1992, em Lisboa e no Porto.
Integrou a formação da Ala dos Namorados como vocalista principal a convite dos músicos Manuel Paulo e João Gil (ex-Trovante), e foi neste grupo que alcançou o estrelato. No sentido de cultivar a sua voz de contratenor, frequentou aulas de canto com Maria Cristina Castro, uma das “melhores” cantoras soprano portuguesas.
Fora do âmbito da Ala dos Namorados, colaborou com o projeto Diva de Natália Casanova (voz), Pedro Solaris (guitarra), João Vitorino (bateria), Diamante (baixo) e João Marques (teclas), e com o ex-Madredeus Rodrigo Leão.
A solo, Nuno Guerreiro gravou, em 1999, o álbum “Carta de Amor”, a convite da editora EMI do Japão, um disco composto por clássicos da canção popular anglo-americana, tais como “When The Saints Go Marchin In”, “Amazing Grace” e “Greensleeves”. Contou ainda com a interpretação de “Perdidamente”, poema de Florbela Espanca, musicado por João Gil para os Trovante.
Em 2002 gravou o álbum “Tento Saber”, com produção de Gonçalo Pereira. Rui Veloso toca guitarra em “3 Minute Song”, uma canção sua e de Carlos Tê. Inclui também “Por Amor, Por Alguém”, de Sara Tavares, “Tu Podes Dar”, de Lúcia Moniz e Pedro Campos, e uma versão de “Careless Whisper”, de George Michael.
Entre a carreira a solo, com a Ala dos Namorados e outros projetos em que esteve envolvido, Nuno Guerreiro fez concertos por todo o país e em diversas partes do mundo.
Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé e responsável pela contratação do “ilustre louletano” para os que seriam os derradeiros concertos do cantor, nos dias 30 e 31 de março de 2025 no Cineteatro Louletano, deixou no Facebook sentidas palavras de homenagem a Nuno Guerreiro. “Um artista fantástico, com uma voz inconfundível e única, um louletano de alma e coração que, mesmo na ribalta, nunca esquecia a sua terra. A morte de Nuno Guerreiro deixa a nossa comunidade bem mais pobre. Loulé está de luto, o mundo artístico nacional está de luto (…).
Os dois concertos no Cineteatro Louletano, no contexto da banda Mau Feitio, com Ricardo J. Martins, na guitarra portuguesa, João Palma, no acordeão, Vítor Bacalhau, na guitarra clássica, e Vasco Moura, no baixo elétrico, tiveram “casa cheia”. Os concertos, de homenagem a Carlos Paredes, foram gravados para futura edição e contaram com a participação da Banda Filarmónica da Sociedade Recreativa Artistas de Minerva.
E seria com esta Filarmónica que Nuno Guerreiro daria um concerto “especial” no Festival Med, também em Loulé, no final de junho, num espetáculo de homenagem à artista cabo-verdiana Sara Tavares, com quem Nuno Guerreiro manteve uma “forte” ligação artística e pessoal.
Entre muitos artistas que mostraram consternação e tristeza nas redes sociais, o autor João Monge referiu sentir uma “tristeza profunda” com a partida prematura do vocalista da Ala dos Namorados, ao qual cedeu inúmeras letras que se exteriorizaram graças à portentosa voz de Nuno Guerreiro.
Fotografia de capa de Nuno Guerreiro no Cineteatro Louletano cedida pela CM de Loulé.