Álbum “In-fusão” sai a 30 de março
Escrito por Daniela Azevedo em 03/03/2025
A música ‘Espírito Livre’ nasceu primeiro numa versão em inglês (Free spirit). Mais tarde ganhou a versão em português que agora faz parte do álbum “In-fusão” produzido e musicado por João Svayam.
O concerto de lançamento do álbum vai ter lugar no dia 30 de março, pelas 15h00, na Casa da Ribeira, na zona do Sobral de Monte Agraço. O valor de entrada para o concerto é o valor do álbum – 15 euros.
TunetRádio – O álbum “In-fusão” tem um título cheio de simbolismo. Como surgiu esta ideia e o que ela representa para ti?
Elisabete Mália – “In” tem, neste contexto, um sentido de interioridade, como que um movimento para dentro. “Fusão” subentende a ideia de transformação, união, mescla. As músicas deste álbum transportam em si uma diversidade de emoções e estórias que nos podem tocar de variadíssimas formas, seja pela letra, melodia ou somente o sentir daquilo que contêm na sua invisibilidade terrena. Quando nos permitimos ser tocados por alguém ou por algo, ocorre uma alquimia e algo se transforma no nosso interior. Por ínfima que pareça essa mudança. “In-Fusão” tem ainda implícito a magia das ervas na sua dança com a água. Aquilo que muitas vezes chamamos de chá (que é uma planta), é na realidade uma infusão. A colocação de ervas em água quente, repousando por minutos até que haja um diálogo entre os vários elementos, fundindo-se num só. A água deixa de ser só água. As ervas deixam de ser só ervas. E renasce um novo elemento – a infusão! Nenhum dos elementos permanece igual.
Descreves-te como uma intermediária das músicas e letras que te chegam intuitivamente. Podes partilhar um pouco mais sobre como é esse processo criativo, como acontece?
Considero a música uma dádiva divina, na minha vida. Quem sabe não seja o divino que existe em todos nós, de alguma forma? Não estudei música, nesta vida. Por um qualquer desígnio, as letras e melodias vão chegando até mim. Já escrevi mais de 40 letras.
A primeira vez que aconteceu, escrever a letra de uma canção, eu estava sentada no meio da Natureza a tocar o meu tambor xamânico. Quando me apercebi, estava a cantar algo que não conhecia. Felizmente lembrei me de gravar para não esquecer. E a música começa assim: “A vida vem com o amanhecer…”. Assim nascia a primeira canção. Dei-lhe o título ‘Renascer’. Interessante foi eu ter pintado uma Fênix no meu tambor, sem ligar um ato ao outro. Coincidência? Talvez. Esta música surgiu num contexto de natureza ao nascer do sol. De certa forma em sintonia com o meu estado de espírito, naquele momento. Eu estava simplesmente a desfrutar daquele maravilhoso dia e envolvência.
Na maioria das vezes, as canções surgem em momentos de vivência de emoções intensas. Sejam elas mais ou menos agradáveis. Experiências de tristeza, alegria, serenidade, encanto, deslumbramento, ou mesmo de plenitude como foi o caso de ‘Free spirit’. Naquele dia, tinha feito uma caminhada na região do Montejunto e ao chegar a casa sentia-me tão plena que saiu de dentro de mim, em inglês: “I’m a free spirit!”. Porquê em inglês? Pois não sei. Mais recentemente e numa experiência de tristeza, de um breve mas intenso sentir nasceu ‘Quero acreditar’. Revela, de certa forma, a dificuldade que por vezes sinto em comunicar. Como se não falássemos todos a mesma linguagem. Por outro lado semeia também a esperança e fala como de certa forma nos vemos no reflexo do outro. Acredito que as músicas vagueiam pelo cosmos e quando em certos momentos nos alinhamos na mesma frequência, conseguimos escutá-las e tornamo-nos “parteiros” delas e são assim materializadas.
A mensagem principal do “In-fusão” desafia a ideia de que não existe uma idade certa para criar ou começar algo novo. O que te inspirou a abordar este tema?
No meu ver, a música, mais do que as outras artes que vou rateando, veio provar que tenho muitas capacidades, sem na maioria das vezes ter consciência disso. Ao longo do tempo fui percebendo: quando comecei a trabalhar o barro, sem qualquer formação; quando escrevi e publiquei livros para crianças, sem formação específica para o efeito; o mesmo na tecelagem e tantas outras experiências que me vou permitindo. Mais recentemente, a música surge na minha vida sem que eu tenha qualquer formação musical. As letras chegam e ouço a melodia dentro de mim. E vou gravando para não me esquecer. Depois de nascerem em mim, estás canções trabalham primeiro comigo. Canto-as muitas vezes em casa. Vivencio-as. Entrego-me as emoções que me trazem: de prazer, de tristeza, etc. Algumas levam o seu tempo até às conseguir cantar sem que a emoção embargue a voz.
No álbum, falas sobre explorar o “baú” de coisas que tens dentro de ti. Como foi o processo de descobrir e trazer essas emoções e ideias para a música?
No meu sentir existe dentro de nós um “baú” repleto de coisas belas que nos podemos pertimitir manifestar, materializando-as. Estas descobertas aconteceram em mim quando comecei a arrumar a minha “casa” interior. É necessário uma dose de coragem para acreditarmos em nós. É necessário uma dose de confiança e auto-estima para não nos deixarmos afetar por quem não fala a mesma linguagem. Aceitemos que pensam e sentem diferente. Uma coisa é certa, ao darmos um passo em frente nesta viagem-aventura ao nosso interior percebemos finalmente o quão magníficos e extraordinários somos.
O lançamento será numa quinta, na zona do Sobral. O que te levou a escolher esse local e o que esperas que o público sinta nesse ambiente?
Visitei a Casa da Ribeira num pequeno evento que lá decorreu. Senti acolhimento e ancestralidade. Parece-me a melhor forma de descrever um lugar que pertence á mesma família há algumas gerações e que criou estreitos laços com a povoação envolvente. E sendo assim o meu sentir, achei que seria o sítio ideal para um nascimento. O nascimento de In-Fusão!
Como esperas que as pessoas se liguem a este trabalho? Há alguma emoção ou mensagem específica que queres transmitir?
Considerando, como já referi, este álbum como uma dádiva, ele surge por acreditar que não me fazia sentido manter esta riqueza apenas para meu usufruto. Desejo profundamente que as pessoas a acolham estas canções no seu coração; que as ajudem a nutrir e quem sabe, curar algumas feridas internas. Acredito que nada chega mais longe do que a vibração/frequência do som.Seja a nossa voz ou os instrumentos musicais. Sendo o Ser Humano constituído essencialmente de água e sendo este elemento um excelente condutor de energia, facilmente será um bom receptor de vibrações, que também são energia, porque tudo é. E se nestas músicas vai amor, então acredito que será essa vibração que tocará as pessoas. Passo aqui também o testemunho da coragem de sermos. De não termos receio de nos revelamos, de assumirmos e partilhamos aquilo que nos faz feliz, independentemente de termos formação académica. Há lugar para tudo neste mundo!
O álbum reflete o teu percurso pessoal. Que lições ou experiências da tua vida achas que mais influenciaram as músicas e letras do “In-fusão”?
Aqui, entendam que acima de tudo e trata de uma “voz de alma”. Um arauto do coração. É tão simplesmente a tradução do sentir do meu Ser que em jeito de dádiva divina recebo com gratidão infinita. Assim, quem com elas se identificar que lhes dêem vida. Cantem! Sozinhos ou em grupo. Partilhem momentos com outras pessoas ou outros seres. Por fim agradeço a todas as pessoas que entendem a minha linguagem de ser, e às que não me entendem também, pois os desafios que me trazem contribuem apenas para o meu proprio crescimento. Uma grande gratidão para com o meu amigo João Svayam, pois sem a sua colaboração, dedicação, empenho e sabedoria, teria certamente sido muito diferente. As músicas são energia em movimento. Alimentem o amor que as transporta para que chegue ao máximo de corações possível.