Luís Pucarinho e “as perguntas que abrem portas”
Escrito por Daniela Azevedo em 07/02/2025
Depois de “Na Rua Amarela” (2011) “Orgânica Mente Humana” (2015) e “Saia Rodada” (2018), Luís Pucarinho lançou em 2024 “Só as Perguntas Abrem Portas”. Daniela Azevedo conversou com o cantautor.
Segundo João Carlos Callixto, autor da nota de imprensa, “há inquietação a rodos neste novo disco do cantautor nascido em Alcácer do Sal – isto desde a primeira faixa, “Animais”, onde nos diz “Não quero mais viver para tapar um vazio / E afundar o ser”. Vemos aqui o quotidiano dissecado por alguém que não fica “a ver a vida da janela”, mas que a sente na carne e que a transporta para as suas canções de uma forma despudorada”.
Luís Pucarinho “interroga o mundo e interroga-se como ente criativo que faz parte do mesmo, envolvendo-nos num abraço em que nos faz recordar que “nós somos só pessoas”. Mas ele, que não é “quadrado nem articulado” no seu parecer, como canta em “Mãe”, não receia de facto mostrar as suas fragilidades como ser humano. É essa aliás uma das suas “fortalezas” como cantautor, inserindo-se numa linhagem que vem dos jograis medievais e que segue pelos cantores folk do século XX que mostraram a sua alma naquilo que cantavam, ao mesmo tempo que punham dedos nas feridas da sociedade”.
“Só queria ter a solução / resolver tudo de rajada / mas há quem faça revisão de quantos / vão ficar sem nada”, canta-nos Luís Pucarinho em “Janela”. Não será esse o seu caso, já que, apesar da nota de algum desencanto que transparece em canções como “Carta ao Meu País”, é também ele a salientar que “existe sempre um bom dia para dizer / O Amor sem hesitar põe-se a pensar / E junta poesia para escrever”. A sua poesia salta das palavras e passa para a música, vivendo também de cumplicidades como as que o ligam aos músicos Zé Peps ou Mário Lopes, ele que nos apresentou já duetos com Jorge Benvinda (dos Virgem Suta) ou Duarte (um dos mais notáveis fadistas desta geração).
“Afinal, “quantas coisas minhas são só tuas”? Ou será que o Luís Pucarinho é um alter-ego de nós todos neste Portugal de 2024?”.