Mira Kendô e o poder da Kora
Escrito por Daniela Azevedo em 26/01/2025
Os músicos Braima Galissá e Jori Collignon conversaram com Daniela Azevedo sobre o lançamento de “Mira Kendô” e as perspetivas que traçam para 2025.
Braima Galissá nasceu na Guiné-Bissau, cresceu na tradição familiar dos griots, figuras íntimas da história cultural e identitária do povo Mandinga. Durante anos, dedicou-se a explorar as profundezas da sua herança, praticando a arte e o ofício da Kora.
A história de Mira Kendô começa no estúdio de Jori Collignon, quando Braima lhe foi apresentado por um amigo comum, Francisco Sousa (Fininho). Assim que Braima começou a tocar a Kora, surgiram composições “maravilhosas”. Instintivamente, Jori agarrou nas suas drum machines e começou a adicionar camadas. “Foi tudo muito natural, como se estivéssemos a conversar através da música. Apesar de termos referências musicais tão diferentes, começámos imediatamente a compor juntos”, revelam os músicos.
Produtor, teclista e músico eletrónico, Collignon vê-se como um “amante das raízes tradicionais da música, que utiliza para tecer, na sua própria trama identitária, as pontes sonoras que interligam diferentes povos, origens e gerações”. Para o músico holandês, foi uma “imersão profunda na rica herança musical” da Guiné-Bissau. “Sempre me fascinou a música tradicional e a forma como ela viaja, evolui e se transforma pelo mundo fora.”, partilha o músico. Quando Jori e Braima falam de música tradicional, não se referem a algo “preso no passado, mas sim a um género vivo, em constante mutação”. Trata-se de compreender o lugar da música no mundo. A música autêntica não é apenas uma atuação, “ela move-se, transforma-se, tem uma função e provoca-nos.”
Juntamente com o “célebre” guitarrista da Guiné-Bissau, Eliseu Forna Imbana e o baterista de Selma Uamusse, Gonçalo Santos, reuniram-se para criar algo “verdadeiramente especial”, misturando influências “diversificadas” e a paixão comum por uma música que “transcende fronteiras”. Esta música é um testemunho do “poder da colaboração e da beleza que surge quando diferentes culturas e tradições se encontram e dialogam através do som”.