Um documentário, duas animações e uma ficção distinguidos no CLIT
Escrito por TunetRádio em 23/12/2024
O documentário “Carne: a pegada insustentável”, a ficção “Quando o Pai Natal era comunista” e as animações “O barco” e “Machado” conquistaram o “Ainda bem que vim!”, nome do prémio atribuído pelo público do CLIT – Cinema em Locais Inusitados e Temporários.
Já distinguida em vários países, “Carne”, do realizador português Hugo de Almeida, foi a longa-metragem documental mais votada pelos espectadores do festival, que elegeram “Quando o Pai natal era comunista”, do bósnio Emir Kapetanovic, como a melhor longa-metragem de ficção.
Em termos de média e de curta-metragem, o voto da audiência ditou como vencedoras, respetivamente, as animações “O barco”, de Rodolpho Pinotti (Brasil), e “Machado”, de Esmaiel Jabbari (Irão). Informados do galardão que lhes coube, elementos das equipas que viram o seu trabalho distinguido expressaram já, à organização e nas redes sociais, a sua satisfação pela escolha dos espectadores.
“É uma honra ser distinguido pelo público do CLIT, um festival que carrega em si a essência da rebeldia e da promoção de temas que precisam urgentemente de ser discutidos. Enquanto realizador, sinto um chamamento para explorar essas questões, muitas vezes desconfortáveis, mas necessárias. E este reconhecimento é mais do que um prémio: é a prova de que não estamos sozinhos. É a perceção de que a ligação entre cinema e comunidade existe, é já forte e merece ser robustecida. O meu muito obrigado à tão especial audiência do CLIT e a todos os que, através da arte, do ativismo ou de pequenos gestos diários, lutam por um planeta mais justo, mais empático e melhor para todos”, escreveu Hugo de Almeida em mensagem endereçada à organização do festival.
Já Emir Kapetanovic disse ter ficado “entusiasmado” ao saber que o filme integrava a programação daquele que considera “um dos festivais de cinema mais fixes da Europa, por as exibições não obedecerem aos moldes tradicionais e os locais de projeção serem cuidadosamente pensados em função dos filmes que vão acolher, tornando as sessões numa experiência única para o público”.
“Sinto-me ainda mais feliz e honrado agora que soube do prémio, pois significa muito para mim que o público em Portugal tenha reconhecido e apoiado a mensagem de unidade transmitida pelo nosso Pai Natal da Bósnia”, acrescentou o realizador.
A partir do Brasil, Rodolpho Pinotti declarou: “É com grande satisfação que celebramos este reconhecimento, que coroou o trabalho de toda a equipa do Coletivo Centopeia Piá. A animação ‘O barco’ é uma singela história de uma família formada por três mulheres de diferentes gerações e apresenta os ritos de passagem e as transformações da vida representados por uma embarcação que conduz as personagens numa travessia. É um projeto muito especial para nós e agradecemos ao público a escolha”.
Por seu lado, Mohammad Wahabi, argumentista e produtor de “Machado”, revelou que esta curta-metragem, inspirada na natureza da região de Lahijan, no Irão, foi concebida “com grande entusiasmo e esforço em condições muito desafiantes” e afirmou-se “orgulhoso da distinção, que destaca a importância e o impacto das histórias que se concentram na proteção ambiental”.
Por sinal, num total de 990 obras recebidas pela organização do CLIT – que viria a selecionar 41, oriundas de 17 países –, o Irão liderou com 134 submissões, seguindo-se o Brasil, com 99.
Explicando como é apurado o prémio “Ainda bem que vim!”, Luís Humberto Teixeira, diretor do festival, conta que, “dada a variação do número de presentes nas sessões, uma contagem de votos linear decerto prejudicaria os filmes com menos público, pelo que o resultado da votação é ditado pela média das estrelas atribuídas pelos espectadores de cada projeção, sendo que, em caso de empate, o prémio cabe ao filme com mais audiência”.
O responsável adiantou que as quatro obras vencedoras do prémio “Ainda bem que vim!” vão ser reexibidas em data e local a anunciar pela organização do festival.
Promovida pela Associação Cultural Festroia e pelo Monte de Letras, a quarta edição do CLIT – que entre 14 e 18 de dezembro levou dez sessões de cinema de acesso livre e gratuito aos concelhos de Setúbal e de Montemor-o-Novo – teve como parceiros a Cores Vertiginosas, a Diocese de Setúbal, a Câmara Municipal de Setúbal, a Biofrade, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Escola Secundária Sebastião da Gama, o Montado do Freixo do Meio e a Cooperativa Integral Minga.