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Virgem Suta “reconquistam” Lisboa

Escrito por em 20/11/2024

Os Virgem Suta deslocaram-se ao teatro Maria Matos, em Lisboa, com o novíssimo álbum “No Céu da Boca do Lobo” na bagagem.

Amigos e fãs da banda de Beja preencheram a quase totalidade dos lugares de uma das salas de espetáculos de média dimensão com melhor acústica na capital, apenas superada pelo CCB e pela Aula Magna.

Na primeira metade do espetáculo o som esteve no ponto. Nos derradeiros 45 minutos não podemos dizer o mesmo, com o volume a subir para o limiar do conforto auditivo. As luzes estiveram sóbrias e permitiram uma perceção completa do que se passou em palco.

A celebração dos 15 anos de existência dos Virgem Suta com a apresentação do quarto álbum de originais, o já referido “No Céu da Boca do Lobo”, editado na reta final de outubro passado, só foi um pouco beliscada pela falta de coragem de tocar o álbum de seguida na totalidade.

E se é verdade que em Portugal são raros os artistas que o fazem, não deixa de ser algo a lamentar. Como diria Quim Barreiros: “o povão quer ouvir os clássicos, só podemos introduzir umas duas ou três músicas novas por concerto”.

Ora, “No Céu da Boca do Lobo” tem apenas 30 minutos e alguns singles bastante orelhudos. Acreditamos que seria interessante ouvi-lo todo de seguida, certamente que ninguém sairia porta fora, e depois logo fariam uma súmula dos 15 anos anteriores. Singles e não só, pois estavam perante “família” com vontade de celebrar com a banda esse olhar sem preconceitos para o retrovisor.

Além de Jorge Benvinda na voz e guitarra e Nuno Figueiredo nas guitarras e coros, como habitualmente, a banda contou com Bruno Vasconcelos nas guitarras, programações e coros, Hélder Morais no baixo, sintetizador e coros e Jorge Costa na bateria, percussões e programações.

Do álbum homónimo “Virgem Suta” (2009), ouviram-se temas como “Linhas Cruzadas”, “Dança de Balcão” e “Vovó Joaquina”.

“A minha avó queria que eu fosse estudar para Coimbra, mas não aconteceu”. Se a falta de Manuela Azevedo foi notada, Jorge Benvinda fez questão de frisar que “se não abraçarmos o humanismo estamos lixados. Um brinde a vós.”

De “Doce Lar”, longa duração de 2012, ouviram-se pelo menos as canções “Se Deus Quiser” e “Maria Alice”.

Deste e dos concertos que o precederam, salienta-se a garra dos Virgem Suta, a força de inovar e de rasgar certos preconceitos da pop rock feita em português. E sempre com palmas bem sincronizadas de uma audiência quase sempre atenta. “Já não vínhamos há algum tempo à capital. Agradecemos o carinho. É importante dar e receber amor.”

“Vidinha”, “Ela Queria”, “Regra Geral” e “Cama de Casal” foram as “repescagens do álbum “Limbo”, de 2015.

O guitarrista Nuno Figueiredo recordou como a passagem pelo Womad em 2022, no Chile, inspirou o título do novo álbum. “Há que viver o momento, sem receios”.

“Amor Ao Avesso”, “Dar o Gosto ao Gosto”, “Dois Dias”, “Cantar Até Cair” e “Direto TV” foram alguns dos temas interpretados de “No Céu da Boca do Lobo”.

“A vida é uma loucura, andamos a correr atrás do sensacionalismo. Se estivermos fartos não nos podemos calar, essa é que é essa”. Para mais nos 50 anos do 25 de Abril de 1974.

A par de “Defesa Pessoal”, de Luta Livre (Luís Varatojo), “No Céu da Boca do Lobo” é um dos álbuns mais interessantes a refletir o atual “estado da nação”.

A banda assumiu sentir “borboletas na barriga”. “É especial podermos partilhar este momento convosco. Há sempre alguém a querer tirar um pedaço deste pais incrível”.

Após uma sentida homenagem a Carlos Paião, referido como um dos maiores letristas da música portuguesa, ouviu-se uma curiosa versão de “Playback”.

Gimba, outro importante compositor da música portuguesa, esteve sentado na audiência. Se tivéssemos de apostar, os Afonsinhos do Condado (e Tiroliro & Vladimir e tantas outras aventuras de Gimba a solo ou com outros artistas) integrariam a discografia que inspirou a banda bejense.

O final, apoteótico, fez-se com uma rara invasão de palco no teatro Maria Matos. Os Virgem Suta seguem agora para o Porto, onde atuam a 21 de novembro na Casa da Música. Esperemos que em 2025 consigam levar “No Céu da Boca do Lobo” a muito mais palcos. Merecem e cá estaremos para o testemunhar.