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Ponte de Lisboa ao Rio de Janeiro resulta em “Barbarizando Geral”

Escrito por em 14/10/2024

“Barbarizando Geral” é o fio condutor que une Fred Martins (cantor e compositor brasileiro a viver há 14 anos entre Portugal e Espanha) e o percussionista Marcos Suzano – um dos “mais respeitados músicos brasileiros com trabalhos aclamados tanto nacional quanto internacionalmente”, pode ler-se na nota enviada à comunicação social. O disco é o resultado da soma de dois músicos “consagrados, que vivem em dois continentes diferentes, que se encontram no universo afro-brasileiro do samba (entre outros géneros da música negra carioca)”.

O novo álbum, que aborda vários aspectos de nossa vida social mais recente, foi gravado simultaneamente em Lisboa e no Rio de Janeiro. “Barbarizando Geral” será lançado no dia 15 de outubro nas plataformas digitais sob a chancela da gravadora brasileira Biscoito Fino.

Neste trabalho os arranjos minimalistas clarificam o essencial de cada canção, onde letra, melodia e ritmo ganham maior interesse com uma apurada pesquisa de sonoridades eletroacústicas.

Para Fred Martins, “este álbum tem muito de crónica social em forma de samba. Aborda problemas como a desigualdade social, o autoritarismo financeirizado e a destruição absoluta do meio ambiente. “Barbarizando” nasce da inquietude em relação à eclosão e aumento do discurso ultraconservador, fascista mesmo, que naturaliza e semeia o ódio e a violência. O disco comenta uma série de situações que acontecem dentro desse quadro desolador, mas também reafirma a única saída possível, que é o que a vida nos pede: uma relação amorosa consigo mesmo e com o mundo”.

E acrescenta: ¨Poder fazer isso ao lado do Suzano foi desafiador, pois ele preparou coisas que eu não imaginaria, e levou o meu violão e o meu canto para lugares inesperados. Isto foi muito bom.”

Marcos Suzano confirma o desafio: “Eu dei muita sorte. O Fred toca um violão “da pesada”. Quando vem a batida eu sinto um ímpeto e eu tenho que analisar com a letra qual será a direção. E isto é muito é legal.”

Boa parte do repertório aborda (às vezes com ironia e sarcasmo e outras como denúncia ou caricatura) temas sensíveis da atualidade, como a crise ambiental e civilizacional. Neste ponto, merece destaque o samba que dá nome ao álbum, “Barbarizando Geral”, além de “Senzala”, “Madame Maldade”, “Dois Chicos” (homenagem a Chico Mendes e ao Papa Francisco) e “O Rancho da Seita Suicida” (sobre o perigo do negacionismo científico como prática política).

A destacar ainda “Além do Qualquer”, uma canção de Fred Martins em parceria com o poeta Manoel Gomes. Participam do tema o músico argentino Martin Sued, no bandoneón, o que empresta à música certa gravidade, dialogando perfeitamente com a voz e o violão de Fred e a percussão concisa de Marcos Suzano. Segundo Fred Martins “Além do Qualquer” é uma espécie de libelo, em forma de samba/tango, que clama por um mundo em que a vida, a arte, a beleza, a justiça, possam acontecer em plenitude, e que não sejam soterradas pelo império da mediocridade, burrice, mentira e bizarria orgulhosas de si, tão presentes em tempos de desrazão”.

Há também o samba-de-breque “Ahmed”, uma sátira muito bem-humorada que aborda a história divulgada – fake news – que afirma que Chico Buarque não é autor dos seus temas e que compra as suas músicas a um compositor chamado Ahmed. Uma letra cheia de humor, de Roberto Bozzetti, musicada por Fred Martins. O vídeo da música poderá ser visto em breve nas redes sociais e a faixa tem a participação do grupo MPB-4.

E há espaço ainda para a celebração da vida em canções de amor e epifania, como “Este Amor Tem Nome”, “Abalou” e “Trama”. O talento e a larga experiência de Fred Martins e Marcos Suzano garantem um repertório de fino artesanato embalado num criativo diálogo entre a percussão, voz e violão, com pinceladas de outras sonoridades instrumentais, como o bandoneón de Martín Sued, os teclados de Sacha Ambak, o trompete de Aquiles Moraes e o trombone de Everson Moraes, além das vozes de Nani Medeiros e o já citado MPB4.

Os temas do disco foram, em parte, compostos apenas por Fred Martins, mas também há parcerias com Roberto Bozzetti, Manoel Gomes, André Sampaio e Marcelo Diniz. Os arranjos musicais também são todos de Fred, exceto um tema que conta com a luxuosa colaboração de Elodie Bouny no arranjo de sopros.

A produção musical do “Barbarizando Geral” é de Fred Martins e Marcos Suzano e a produção executiva de Nei Barbosa. A capa do álbum foi criada pelo designer carioca Marcio Oliveira, a partir de desenhos do próprio Fred Martins, com caricaturas a preto e branco, onde a temática social é reforçada.

Fotografia de capa por Alfredo Matos.