Måneskin em destaque no SBSR e Manu Chao inesquecível no “Seixal maluco”
Escrito por Daniela Azevedo em 19/07/2024
Chegar ao Meco para o festival Super Bock Super Rock (SBSR) não é o percurso mais fácil ou rápido para se fazer, mas, ultrapassados os rigores do estacionamento e das inspeções de segurança, o ambiente convida a um excelente final de tarde e noite muito descontraído com amigos e espaço para ouvir e ver em condições as nossas bandas favoritas.
Depois dos Capitão Fausto terem dado um concerto morno, com adolescentes e cabelos grisalhos ombro a ombro no público, foi a vez dos Royal Blood darem um concerto a partir tudo com o seu garage rock revoltado sem sinais de cansaço ou abrandamento nem mesmo na reta final da atuação.
No fosso, alguns membros dos cabeças de cartaz Måneskin espreitavam a atuação para, em instantes, também se transformarem eles próprios em estrelas de glam rock que inspiraram tantos outfits nesta tarde de quinta-feira de SBSR. Os Måneskin estão a cultivar uma adoração especial entre nós.
Måneskin são o vocalista Damiano David, a baixista Victoria De Angelis, o baterista Ethan Torchio e o guitarrista Thomas Raggi e não vieram a Portugal com meias medidas: um turbilhão de energia, nalguns momentos talvez meio descontrolada, e que foi num crescendo triunfal até deixar “de rastos” os fãs que cantaram entusiasticamente cada música trazida ao Meco.
O grupo italiano, que se popularizou depois da participação na 11.ª edição do Factor X em 2017 e de ter vencido o Festival Eurovisão da Canção em 2021, está agora em franca ascensão nos Estados Unidos com concertos esgotados em vários locais. Nos MTV VMAs, recorde-se, ganharam o melhor vídeo de rock pela sua poderosa balada, ‘The Loneliest’.
Aqui tudo começou com ‘Don’t Wanna Sleep’, ‘Gossip’ e a muito conhecida ‘Zitti e Buoni’. Poucos grupos europeus desde os Abba transformaram o sucesso da Eurovisão numa carreira internacional, mas os Måneskin estão, definitivamente, a escrever assim a sua história. “Rush!”, do ano passado, é já o seu terceiro álbum.
É já com o público completamente rendido que nos chega ‘Supermodel’, de 2021, ‘Gasoline’, e a famosa versão de ‘Beggin’.
‘I Wanna Be Your Slave’, tocada também no encore, é super sexy e assegura que ninguém sai dali indiferente aos loucos romanos.
Damiano David mostrou não ter quaisquer receios e enalteceu a figura de Cristiano Ronaldo (como Camila Cabello também tentou fazer no RiR). Foi vaiado de início, tal como ela, mas insistiu e até acabou por vestir uma camisola do craque da bola porque faz o que quer e sabe que é idolatrado no matter what.
Ver Raggi a atacar o braço da sua guitarra atrás da cabeça começa a ser já um clássico que enlouquece os fãs. Victoria De Angelis a fazer crowdsurfing também não nos sai da memória.
Em ‘Kool Kids’, como se a adrenalina já não estivesse suficientemente em alta, chamaram jovens do público para subirem ao palco e partilharem com os seus ídolos suor e muita, muita emoção fervilhante.
‘The Loneliest’ ficou para o muito berrado encore.
A receita deste concerto fez-se de rock ‘n’ roll puro, todo muito orgânico, um bombardeiro de luz, tão potente que nos faz revirar por dentro e dá aquela gana de quem se acha capaz de conquistar o mundo. A obstinada banda está a conseguir exportar o rock made in Italy e isso é de louvar.
Daniela Azevedo
Um parêntesis para falar dos “Faustos”, Tom Morello, Will Butler e… Manu Chao no Seixal
Os Capitão Fausto estão hoje mais “experientes”, conscientes da passagem do tempo e apostados em incutir uma memória nos jovens que vieram acampar para o Meco (para alguns será mesmo a primeira vez que os vislumbram). Auxiliados por um som muito acima da média de um festival em Portugal, os “Faustos” tocaram o nosso coração roqueiro na revisitação do álbum “Pesar o Sol” (2014).
Antes, Tom Morello vincou o mais de um milhão de pessoas que o viu e à sua banda na digressão europeia que hoje chegou ao fim. “Testify”, “Killing in the Name” e um discurso obviamente anti-Trump foram os momentos altos do espectáculo do guitarrista dos Rage Against The Machine.
Nesta curta nota de rodapé vale a pena referir ainda a atuação escorreita de um tal de Will Butler, irmão de Win, vocalista dos Arcade Fire. O SBSR é um festival ao qual custa chegar, mas que continua a proporcionar belos momentos. Que o digam os espectadores do dia seguinte, que graças ao cancelamento do rapper 21 Savage lograram assistir a concertos mais extensos de Slow J e Papillon. Justiça poética para os dois rappers portugueses mais criativos da atualidade? Acreditamos ter sido.
Nesse dia, numa difícil opção entre o SBSR e o Festival do Maio, nos concelhos vizinhos de Sesimbra e Seixal, a escolha pendeu para Manu Chao. O músico francês terá sido responsável pela maior enchente de sempre no Parque Urbano do Seixal. Um concerto pseudo-acústico (algumas batidas “orelhudas” eram debitadas via telemóvel), no “Seixal maluco”, com muitas palavras de ordem em defesa de Gaza e da liberdade em geral. Com a ausência de marcas requerida pelo músico, era impossível não reparar nas diversas bandeiras da Palestina. Hino atrás de hino, Manu Chao teve a audiência na mão desde o primeiro segundo. Contas feitas, o público do Seixal teve direito a mais de duas horas de espectáculo, a diversos encores e a uma festa constante, sem momentos “mortos”. Regressará a Portugal para uma atuação num icónico festival de músicas do mundo a celebrar uma data redonda em 2025?
Filipe Pedro