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Dua Lipa transforma palco do Nos Alive em mega pista de dança

Escrito por em 14/07/2024

Ora façam lá uma pausa e pensem num passeio em fim de tarde de verão, pelas esplanadas, quiosques e barzinhos da vossa vizinhança? Parece tudo muito semelhante, verdade? Sim… até que se comece a ouvir uma música de Dua Lipa e o mood muda logo para animar, tornar mais leve e açucarar o momento.

Dua Lipa estreou recentemente (como co-produtora) “Camden”, uma série documental de quatro partes, para o Disney+, sobre a enorme influência musical da região, juntamente com alguns grandes nomes (Noel Gallagher, Chuck D, Boy George) para recordar as suas ligações ao bairro londrino enquanto conta parte da sua própria história e de como “em Camden podes ser quem quiseres”. Com uma concentração invulgarmente elevada de locais para concertos, se Camden inspirou Dua Lipa a fazer a festa acontecer sem pausas, de forma otimista e divertida, então fez um bom trabalho.

Estávamos em plena pandemia e já a cantora anunciava dias melhores com o seu “Future Nostalgia”: um álbum super dançante que se festejou no Nos Alive com entusiasmo redobrado por não poder ter sido celebrado como devia em março de 2020.

O álbum passou a simbolizar o que faríamos novamente quando pudéssemos: vestir-nos com roupas giras, dançar, namoriscar ou cantar com os amigos ao som das músicas favoritas. E destas foram até fartar. Senão vejamos: ‘Training Season’, ‘One Kiss’, ‘Illusion’, ‘Break My Heart’ e ‘Levitating’, assim só para aquecer. Dua Lipa protagoniza um espetáculo eletrizante bem ao estilo das grandes divas da pop. Tudo, claro, devidamente cronometrado e coreografado ao milímetro por um grupo de dançarinos de outro mundo (talvez até preferisse algumas falhas, mas um pouco mais de espontaneidade, algo a que a coreografa Charm La’Donna não ia achar grande piada).

Uma passerelle no meio da multidão e um canhão de confettis acrescentam ainda mais ao imaginário festivaleiro. ‘These Walls’ é, para mim, das músicas mais bonitas do recente álbum “Radical Optimism” (faz-me lembrar ABBA no seu tom de melodia trágica, ainda que estes substituíssem “fucked” por “messed up”, de certeza, e só desejo que venha a ser apresentada como single) e, felizmente, não faltou. ‘Love Again’ foi interpretada com a garra de quem parece estar a contar-nos uma confissão pessoal.

‘Cold Heart’, a sua versão do clássico de Elton John, pôs muitos a cantarem, tal como o Sir certamente gosta de saber, dado o imenso carinho com que se juntou a Dua Lipa nesta aventura musical de tornar dançáveis alguns dos seus temas mais icónicos e que os aproximou num dos períodos mais cinzentos da pandemia.

Dua Lipa merecia uma maior ovação que a fizesse regressar ao palco, mas, ainda que não tenha havido, e porque, lá está, tudo tem preparação milimétrica, ainda houve encore com ‘Physical’, ‘Don’t Start Now’ e ‘Houdini’.

Foi um espetáculo repleto de bons momentos para os olhos e para os ouvidos, com muitos momentos Instagramáveis, claro, porque, afinal, havia centenas de telefones no ar, que continuaram durante a apresentação com drones feita pela Heineken enquanto os fãs abandonavam o recinto. E o Nos Alive continua a estar no pódio dos melhores festivais do país.

Daniela Azevedo

Arlo Parks no lugar de Tyla e uns Pearl Jam dos bons velhos tempos no Nos Alive

Em mais uma substituição de última hora – e parece que este ano não há festival que se preze que não tenha um cancelamento de última hora e uma substituição arrojada à altura – Arlo Parks substituiu a “insonsa” sul-africana Tyla.

Já o havíamos escrito por estas páginas e foi um motivo extra para visitar o Nos Alive em dia de concerto estelar de Dua Lipa, até ao momento, uma das melhores atuações pop de 2024.

Vestida para um churrasco de domingo em família, Arlo Parks alternou entre os álbuns “My Soft Machine” e “Collapsed In Sunbeams” visivelmente feliz por preparar as hostes para a compatriota bem mais popular. Refira-se mesmo que algum público menos informado insistia em chamar-lhe Tyla. Outros viraram costas ou sentaram-se. Amigos, o bom de um festival é a possibilidade de descobrir “coisas novas”. E festivais como o Nos Alive, Vodafone Paredes de Coura ou Primavera Sound – apenas para citar alguns – têm sempre novidades. E apesar de já não ser uma novidade fresquinha, tratava-se da terceira atuação de Arlo Parks em Portugal.

A verdade é que aquela voz quente e suave podia estar mais bem acompanhada. A sensação que nos deu foi que estaria cada um por si, com pouca noção do espaço a ocupar para que tudo fizesse mais sentido. Um certo “cumprir calendário” que impossibilitou que a experiência do espectador fosse ainda melhor.

Volvidas 25 horas e tínhamos os Pearl Jam (PJ) no palco do Nos Alive. Um alinhamento para a menina e para o menino, quase 30 anos depois do primeiro concerto em Portugal, no Dramático, em Cascais (vi o segundo de dois concertos e entretanto o Nos Alive, por motivos óbvios, tornou-se o palco predileto da banda de Seatle).

Há que dizê-lo com frontalidade: o som nem sempre esteve no ponto e Eddie Vedder nem sempre disse coisas com sentido (ainda assim daria um melhor candidato do que Biden; apenas terá bebido um copinho a mais ao jantar) mas a verdade é que o grupo de amigos que decidiu há muitos anos cortar relações com os audiovisuais e com as televisões (excepto gravações ao vivo e umas animações, os PJ praticamente não têm vídeos musicais) mantém uma elevada capacidade de “rockar”, sobretudo quando revisita os primeiros álbuns “Ten” e “Versus” (casos de “Once”, “Even Flow”, “Jeremy” ou “Animal”).

Teriam os Led Zeppelin ficado orgulhosos com o fulgor desta revisitação quase 35 depois do início da banda? Que diria Neil Young? Que diriam todos os músicos de Seatle que desapareceram ao longo dos anos por overdoses, suicidios, homicídios?

“Imagine”, de John Lennon, a ser tocado a solo com a esperança dos EUA se libertarem do “cancro” em ano de eleições (referência óbvia a Trump). A relação com Portugal é especial desde Cascais. Que me recorde, este foi o melhor alinhamento de um concerto dos PJ no Nos Alive. A recordar-se a absoluta loucura dos meus 20 anos, ainda que a espaços. Ser arrastado por um autêntico comboio, em poucos segundos, da retaguarda do Dramático para a segunda fila.

Como foi fantástica a nossa pós-adolescência, com concertos inesquecíveis e com os festivais de média ou grande dimensão a darem os primeiros passos. Tem valido a pena a viagem.

Filipe Pedro

Fotografia de Dua Lipa nos Nos Alive por José Fernandes/EIN.