Nos Alive: Vamos ver a Arlo Parks e estamos felizes
Escrito por Filipe Pedro em 12/07/2024
Para nossa felicidade vamos ver Arlo Parks apresentar o álbum que lançou na reta final de 2023, “My Soft Machine”. O anterior, o excelente “Collapsed In Sunbeams”, foi uma pedrada do charco alternativo, revelando uma pós-adolescente com uma voz quente e suave, com vocábulos coloridos que encaixam na perfeição uns nos outros.
A mistura eclética de jazz, soul e indie que aponta antenas para uns Portishead, Massive Attack, Radiohead ou Erykah Badu é apresentada de uma forma rendilhada e orelhuda que nos delicia. Depois de ter atuado no Vodafone Paredes de Coura e no Primavera Sound do Porto, Arlo Parks substituí a sul-africana Tyla no Nos Alive. E que sorte tivemos nós, ficámos a ganhar – e muito – com esta alteração de última hora. Dua Lipa terá de “suar” bastante para “ganhar” a segunda noite de Nos Alive.
Em jeito de balanço, na primeira noite de Nos Alive marcaram presença os Arcade Fire, pouco mais de 19 anos desde que os vi pela primeira vez no Primavera Sound Barcelona em 2005, concerto que coincidiu com a mudança do festival catalão para a nova casa, a mesma do Fórum das Culturas do ano anterior, perdendo alguma da singularidade que existia no Poble Espanyol.
A banda já não é a mesma de então, mas mantém uma intensidade nos concertos que lembra um pouco – salvaguardando as devidas distâncias – o dar tudo de uns James (responsáveis por um dos melhores momentos do Rock in Rio Lisboa 2024). De resto, desfilando single atrás de single – com uma singela menção e homenagem aos Smashing Pumpkins (que os precederam no palco principal do Nos Alive) – e muitas recordações vívidas de Paredes de Coura ao Super Bock Super Rock e até ao já referido RIR, muitos foram os concertos e os discos apresentados em Portugal, além das aventuras no Lounge e Incógnito e outros momentos icónicos.
A par dos Vampire Weekend e dos Arctic Monkeys, os Arcade Fire são a banda mais importante da geração que tem agora entre os 30 e os 40 anos. “Chegar a Lisboa é como chegar a casa”. Se sobre Lisboa nos dias que correm teríamos muito a dizer, sobre o primeiro dia de Nos Alive só podemos mostrar brilho nos olhos pelo saudosismo inerente, mas também pelas novidades proporcionadas nos diversos palcos do festival, com nomes como Moullinex ▲ GPU Panic (num fabuloso espectáculo de luz e som em 360 que só pecou por tardio; arrancou já passava das 3h da manhã de uma quinta-feira), Xinobi (e amigos), Silly, Conjunto Corona, Bateu Matou, Tipo ou Inês Apenas. Que dia espectacular.
Falta deixar um agradecimento especial aos responsáveis da RTP e RTP Play pela excelente cobertura do Nos Alive. Este devia ser o padrão na cobertura de festivais em Portugal (seis palcos, seis canais, som impecável, realização decente).
Por outro lado não conseguimos entender a Rádio Comercial neste festival. Não transmite praticamente nenhum concerto e limita-se à palhaçada instagramável de qualidade duvidosa (exceção feita para os repórteres de imagem e texto). Certamente que uma Antena 1 ou uma Antena 3 (ou as duas em conjunto, fica a ideia…) fariam um trabalho muito superior.