Arthur Melo lança hoje “Mirantes Emocionais”
Escrito por TunetRádio em 19/04/2024
“Mirantes Emocionais” é o mais recente álbum do cantor e compositor brasileiro Arthur Melo.
Com três álbuns editados que trazem a MPB na sua essência, Arthur Melo apresenta agora o quarto disco “Mirantes Emocionais”. “Muitas das faixas surgiram a partir de experimentações e colagens com o intuito de criar músicas mais animadas e coloridas”, conta o artista, que começou a compor o repertório do disco durante a pandemia. “O facto de estar sozinho neste momento deu-me liberdade para experimentar ideias de instrumentação, texturas, vozes e tudo mais que viesse à cabeça, sem ter um objetivo claro”, continua. O resultado são 11 faixas que trazem elementos sonoros de estilos como indie pop, rock psicodélico, groove, samba, cumbia, além da forte inspiração dos anos oitenta.
Com produção musical assinada pelo artista juntamente com Lucca Noacco, e mistura por Kassin, o disco é o primeiro a ser acompanhado do Ministério da Consciência, banda/coletivo de amigos que acompanha o brasileiro. “A ideia é que este seja um grupo rotativo de artistas que colaboram comigo nas músicas e também na parte visual. Neste trabalho, as peças fundamentais do Ministério foram eu e Lucca na produção das músicas, e o Artur Souza a assinar o projeto gráfico. Já no concerto ao vivo, além de mim e do Lucca, a banda é formada por André Souza, Victor Diz e Bê Moura”, comenta.
Sobre os assuntos visados no álbum, Arthur Melo percebeu, ao terminar de compor as canções, que havia ali questões recorrentes que tratavam sobre “conexão/desconexão” e “pertencimento” através de vários pontos de vista. “O nome ‘Mirantes Emocionais’ representa a ideia de perceber e analisar várias emoções e sentimentos, mas sem deixar eles te afetarem, sendo apenas um observador. Da mesma maneira como vamos a um mirante para ver a cidade de longe. Olhamos os bairros, as casas, as luzes e os carros, mas não estamos neles e nem a vivê-los, apenas a observar”, explica.
Este é o primeiro álbum da discografia de Arthur Melo cuja capa não é assinada pelo próprio artista, o que abre um novo caminho estético em relação aos seus trabalhos anteriores. Uma das referências são os discos da gravadora RCA dos anos 70 e 80, que traziam a label e os créditos na própria capa. A arte é assinada por Davi de Melo Santos, artista de rua de Belo Horizonte (Minas Gerais/BR) que atua desde 1998. Com projeto gráfico de Artur Souza, “a ideia foi, com cada rosto e cor, representar uma emoção que contemplamos de longe”. “É desta intenção que veio o nome do disco: Mirantes Emocionais. Ver algo à distância e não ser afetado internamente pelo que se observa, como se estivesse em um mirante.”
O álbum começa com “Me Lastimaste”, uma intro que ambienta o ouvinte para entrar no universo do disco. “Ela surgiu da vontade de fazer algo que parecesse com um tango ou um vinil de 7 polegadas empoeirado que podes achar em alguma feira e comprar por curiosidade”, conta Arthur Melo.
Na sequência chega a canção “Na Avenida com Benito”, segundo single a ser editado e um dos temas “mais indie pop do repertório”, com elementos do groove, do samba e da MPB, e com inspiração em Blood Orange e Devendra Banhart.
“Dama da Noite” é a faixa que chegou a estar prevista para a abertura do disco no lugar de “Me Lastimaste”, e que surgiu a partir das influências exercidas por Djavan no processo do disco, tanto na letra, quanto na abordagem musical. “A ideia foi ter uma progressão de acordes que soasse misteriosa e ao mesmo tempo desse a sensação de início de uma nova aventura. Com violão e sintetizadores, esta é possivelmente a que mais une o indie pop com a MBP.”
A próxima música, “Zói Fundo”, outro single, e teve início como uma bossa nova, mas ganhou outra roupagem, com bateria eletrónica e tempo mais acelerado. “A letra vem do mesmo universo de simbolismo e livre interpretação que “Do Colostro ao Osso”. Esta faixa tem muitas referências do disco “Mestiço”, do Luiz Henrique, e do disco de estreia do Jards Macalé, de 1972, em que as baterias e as linhas de baixo são tortas, em tempos um bocado quebrados. Às vezes há a sensação de que a música vai virar uma bagunça, mas ela segue na pressa.”
“De Toda Sorte” foi criada com ares de free jazz, com diferentes secções de vozes que respondiam umas às outras, guitarras com “muito delay e reverb”, e tinha por volta de 8 minutos. “A letra permaneceu com a mesma temática, que é o vazio espiritual e a desconexão com o mundo físico, mas a versão final dos instrumentos acabou por ficar mais reduzida.”
A canção “Maré” surgiu a partir da simbiose de outras faixas: restos dos takes do disco “Adeus”, e a vontade de criar uma conexão com o lado B de “Mirantes Emocionais”, que tem início com “Álvaro Almeida”. “A segunda parte de Maré é uma espécie de portal para uma outra estética. A maior influência é o “RAM”, dos Daft Punk, um disco que mistura elementos de música eletrônica com cenas dos anos 70 e 80.”
Com o portal aberto, chega a faixa “Álvaro Almeida”, o primeiro single do álbum a ser editado. “Esta música foi responsável por trazer um caminho mais indie pop e anos 80 para o disco, com referências da banda Metrô, Rod Stewart e Peter Schilling.”
“Princípios Organizadores” apresenta influências da música latino-americana, sobretudo da cumbia. “A letra é das que mais dialoga com a temática de desconexão e pertencimento, que permeiam todo o disco. A segunda parte desta canção mudou um bocado durante o processo. Era primeiro um grande solo de guitarra e synth, depois foi introduzida a voz da Lis, muito influenciada por “The Great Gig in The Sky” dos Pink Floyd, e por fim, durante a mistura o Kassin trouxe outra essência à voz, que ficou com mais textura, e trouxe também mais dinâmica de delay e reverb para os instrumentos.”
Último single a antecipar o álbum, “Do Colostro ao Osso” traz referências do indie rock dos anos 2000 e do punk rock de grupos como Misfits, T-Rex e Velvet Underground.
“Saídas”, a penúltima música, é uma das canções “remanescentes dos takes” do disco “Adeus”. “Por isso talvez é que mais tenha mais características de MPB, bossa e samba. Esta faixa funciona como um encerramento por ser mais lenta e melancólica.”
O álbum chega ao fim com “Aprendendo a Mentir”, que, assim como “Me Lastimaste”, era antes uma transição entre músicas que não entraram para o disco, mas que acabou por se tornar o encerramento. “A mensagem do mantra presente na música é um resumo de toda a temática do disco, e de certa maneira é um tanto absurda, pois talvez se procurarmos demais, nunca vamos encontrar o que queremos.”
Arthur Melo é um compositor, musicista e cantor brasileiro, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou a lançar músicas em 2017, com o EP “Agosto”, ainda voltado ao samba, à bossa nova e à MPB. No mesmo ano, abriu o concerto de Liniker e os Caramelows e realizou uma participação inesperada no concerto de Devendra Banhart, que o convidou para ir ao palco. Desde então editou três álbuns: “Nhanderuvuçu” (2018), “Metanoia” (2019) e “Adeus” (2020).
Após um hiato de três anos, voltou a editar canções em 2023, com o tema synth-pop retrô “Álvaro Almeida”, pelo selo londrino Wonderfulsound e com mistura assinada pelo renomado produtor Kassin. O single foi o anúncio do novo álbum, que “homenageia a divergente história musical do Brasil, ao mesmo tempo em que olha para o futuro e trilha novos caminhos, a consolidar o artista como um nome emergente do indie pop psicodélico”. O músico é acompanhado pela banda O Ministério da Consciência.
Fotografia de Arthur Melo por Artur Souza/Polvo Studio.