Fantasporto até dia 10 com uma centena de filmes
Escrito por TunetRádio em 01/03/2024
“Testament – Parece que estou a mais”, do realizador canadiano Denis Arcand, abre o festival de cinema Fantasporto, à frente de uma programação com cerca de uma centena de obras, segundo a organização.
Na 44.ª edição do festival, que ocupará o Batalha Centro de Cinema até ao dia 10, estão previstas várias retrospetivas, entre as quais uma dedicada ao realizador belga Karim Ouelhaj, a quem vai ser atribuído um prémio de carreira.
Haverá ainda um programa “muito” especial dedicado à manga transposta diretamente para imagem real, com a exibição, por exemplo, de “Tokyo Revengers”, do realizador japonês Tsutomu Hanabusa, e “Don’t call it mystery”, de Hiroaki Matsuyama.
De acordo com a organização, a competição de cinema fantástico vai contar com uma forte representação asiática, com 11 dos 30 filmes a terem produção japonesa. Na competição de curtas-metragens vão estar 16 filmes, incluindo o brasileiro “Vão das Almas”, de Edileuza Penha de Sousa e Santiago Dellape.
Onze filmes vão marcar presença na Semana dos Realizadores, de “Bucky F*cking Dent”, de David Duchovny, ao brasileiro “Estranho Caminho”, de Guto Parente, que conta com a participação da atriz portuguesa Rita Cabaço.
A única longa-metragem concorrente ao prémio de cinema português é “Best Cop Ever”, de João Bruno, ao lado de oito curtas-metragens. Fora de competição, estão as longas portuguesas “Carne, a Pegada Insustentável”, de Hugo Almeida, e “Titus”, de Rui Neto e Jorge Albuquerque.
Embora tenha ainda programação no dia 10, o encerramento oficial do Fantasporto é no dia 9 com o anúncio dos prémios e com a exibição do filme chinês “Creation of the Gods I: Kingdom of Storms”, um épico de fantasia assinado por Wuershan e que é o primeiro de uma trilogia. O Fantasporto, que teve a primeira edição em 1981, é uma iniciativa da cooperativa Cinema Novo.
Numa recente e extensa crónica protestativa que aqui reproduzimos, Beatriz Pacheco Pereira, fundadora do Fantasporto, denuncia as dificuldades que a Cultura em geral e que os festivais, nomeadamente de cinema, atravessam. Deixa também o convite para que “habitem” sem reservas o Batalha Centro de Cinema nos próximos dias, com a devida justificação e destaques. Inicie-se a citação:
«Os tempos que correm são muito difíceis para a Cultura. Apesar de o Fantasporto ser já detentor da Medalha de Mérito Cultural do Estado Português e da Medalha de Ouro da cidade do Porto e uma larga base de fiéis, o prestígio e respeito internacionais que já tem, esbarram na pouca consideração que a Cultura, sobretudo quando vinda de independentes, recebe em Portugal, a todos os níveis. Pode-se dizer que se evita cuidadosamente apoiar o que não pertence ao grupo adequado, não apoiar tudo o que se passa para fora da capital, o que não se conhece nem se quer conhecer. Não é deixar de apoiar, é apoiar pouquinho. Estiolar eventos é uma tática que qualquer produtor independente, e não só no Cinema, também na Música, nas Artes Plásticas, no Teatro, conhece muito bem. E devido à falta de fundos, fecham companhias de teatro, fecham galerias de Arte, morrem grupos musicais. E é contra este “status quo” que o festival luta sempre, não saindo do Porto, defendendo as instituições da cidade, fazendo ouvir a sua voz, trabalhando. Fazendo todos os anos tudo o que pode, com os apoios que tem, para honrar uma reputação que serve a cidade e o país.
Os festivais de cinema são inicialmente produto de uma paixão pelo cinema. Gosta-se de cinema e tenta-se mostrar o melhor que está disponível. Foi assim com o Fantasporto em 1981. Desde então o festival evoluiu, não só na parte tecnológica, mas também no que toca à exibição. O actual acesso digital através de “streaming”, por exemplo, permite-nos ver filmes em qualquer lado. Mas esta facilitação esconde muitas armadilhas, a principal das quais é perder-se a grandiosidade original de muitos filmes. Imagine-se ver “E Tudo o Vento Levou”, “Lawrence da Arábia” ou o muito recente “Dune” em écran pequeno… Perde-se igualmente o contexto social que uma ida a uma sala de cinema permite, a partilha com amigos, por exemplo, contra as interrupções sem fim durante o visionamento, muitas vezes solitário. Mas perde-se sobretudo, a verdade da obra fílmica.
Num festival de cinema, ressuscita-se o que a tecnologia do privado abafa. Mais do que nunca, dá-se coerência a um lote de filmes, adapta-se, ao escolher os filmes, a personalidade e os conhecimentos do programador ao lugar onde se realiza o evento e ao público destinatário. Este carácter próprio, que cada evento possui, constitui uma mais-valia. Por isso, os produtores e distribuidores escolhem os festivais em que querem apresentar os seus filmes, sobretudo se foram em Antestreia Mundial ou Internacional.
Esta criteriosa escolha de festivais tem a ver sobretudo com a divulgação positiva que certos (poucos) festivais oferecem. Um desses é o Fantasporto cujo prestígio internacional o transforma numa montra muito desejada. Deste modo, ir a um festival de cinema, como o Fantasporto, é mais do que ver filmes recentes. É o culminar de um circuito de vontades que levam os produtores e distribuidores internacionais a querer, querer mesmo, lá apresentar os seus filmes novos.
Pondere-se aqui, porquê o Fantasporto? Porquê escolher um festival num país sem grande tradição cinematográfica, que não tem o mercado que têm os filmes de fala castelhana, por exemplo, nem meios grandiosos de um festival apoiado a sério pelo Estado, como acontece com os mais antigos de classe A, como Veneza ou Cannes? O que há no Fantasporto que atrai 68 países em 2024, a tentarem entrar na sua programação? Ou porque será que um filme selecionado, que seja convidado por este festival, acaba sempre por vir? Por que razão se tornou o Fantasporto num respeitado evento em todo o mundo?
A resposta tem a ver com 44 anos de amor e respeito pelo cinema e pela enorme rede de contactos que desde muito cedo viram o festival como uma plataforma internacional para o lançamento e, até, venda posterior dos seus mais recentes filmes. Precisamente devido a essa “paixão pelo cinema” de que falo acima, o Fantasporto nunca desistiu.
Perguntam-me como resistimos. Fácil responder, apesar do caminho ser extremamente complicado. A continuidade deste festival é feita de ingredientes fundamentais – teimosia, exigência, qualidade, amor ao Cinema, e não necessariamente nesta ordem. Quando fiz o livro de 600 páginas sobre os 40 Anos do Fantasporto, compreendi que havia, de facto, um legado nosso que era necessário continuar, apesar da luta ser cada vez mais pesada e os apoios menores. Quando Isabel Pina gastou dois anos da sua vida para fazer um documentário sobre o Fantasporto, contactando gente importante em todo o mundo, gente que levou excelente memórias da cidade e do festival, a continuidade impôs-se novamente. Se no estrangeiro nos chamam “Tesouro Nacional”, não há que esmorecer. Para a frente. Há vontade e há equipa. Agora, venham os patrocinadores que faltam, investindo na Cultura e não na economia circular com os seus amigos.
Assim, a 44ª edição do Fantasporto vai realizar-se de 1 a 10 de Março, pela segunda vez no Batalha Centro de Cinema. A experiência de 2023 foi gratificante para os dois lados. O Batalha CC singra e nós com eles. E o nosso âmbito de influência continua a alargar.
Como sempre, o festival não vai mostrar só filmes, por recentíssimos que eles sejam, vai mostrar também a cidade e o país. Ao receber duas centenas de convidados estrangeiros por cada edição, o festival decerto contribui também para o “boom” turístico do Porto. Mais, esta edição de 2024 está já a ter a cobertura jornalística da maior revista do espectáculo a nível mundial, a“Variety”, através da presença no Porto de um administrador e editor chefe, Steven Gaydos, uma sumidade do cinema, escritor de vários livros, um dos quais, já em 1998, incluía já o Fantasporto como um dos melhores festivais do mundo.
O festival vai apresentar 28 filmes em Antestreia Mundial, Internacional e Europeia. 30 países estão presentes na edição de 2024. A animação está garantida com quase todos os filmes em competição com representantes cá a subirem ao palco e a tentarem convencer todos de o deles é o melhor…
Mas vamos aos filmes e a alguns dos grandes nomes que este ano estão no Fantasporto. Mantemos as competições tradicionais, ou seja, Cinema Fantástico, a Semana dos Realizadores e o Orient Express, além dos filmes portugueses, sempre presentes no festival. Uma programação eclética de elevada exigência, mas que abrange todos os públicos, desde o jovem que vai à procura de emoções fortes ao intelectual diletante. E a maioria dos filmes em competição chegam acompanhadas dos seus responsáveis, equipas mesmo, sobretudo se em Antestreia Mundial.
Primeiramente um filme de culto, “Cockfighter” (1974). O seu realizador, Monte Hellman, nasceu em 1929 em Nova York, cresceu em Los Angeles e morreu em 2021. Estudou Drama na Universidade de Stanford e Cinema na UCLA. Depois de trabalhar como encenador, ligou-se a Roger Corman no final dos anos 50 que lhe financiou a produção “À Espera de Godot”, a primeira vez que a peça de Samuel Becket foi apresentada em Los Angeles. O seu primeiro filme foi “Beast from Haunted Cave” (1959) e realizou algumas cenas no filme de Corman “The Terror” (1963). Ligou-se ainda a Jack Nicholson em dois filmes, “Back Door To Hell” (1964) e “Flight to Fury” (1964). Segue-se uma carreira em que foi aclamado pela crítica, sobretudo, “Road to Nowhere (2010) que ganhou o Leão de Ouro e outro pela Carreira do realizador, no Festival de Veneza. É considerado por Quentin Tarantino um dos realizadores que mais o influenciou. E até o convidou para o seu primeiro filme “Reservoir Dogs”, de que foi produtor executivo. “Cockfighter” aparece no Fantasclassics e traz-nos Steven Gaydos que foi assistente de produção no filme, e um visitante do Fantas 2024 que vai marcar esta edição. Já veremos por quê.
Um dos filmes sensação será o de Denys Arcand com o seu mais recente filme, “Testament “(Parece que Estou a Mais) na abertura do Fantasporto no dia 1 de Março. É um dos mais proeminentes cineastas canadianos, nascido no Quebec com mais de 40 prémios internacionais e nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro com “Les Invasions Barbares” em 2004. Este filme acumulou outros prémios como César de Melhor Filme e Melhor Realização, e foi filme vencedor do Melhor Argumento no Festival de Cannes 2003. O realizador é também conhecido por filmes marcantes como “Jésus de Montreal” (1989), Prémio Especial do Juri no Festival de Cannes entre outros, ou “The Decline of the American Empire” (1986). “Testament” (2023) é a sua longa-metragem mais recente. A fama que precede Denys Arcand, cineasta canadiano do Quebec, e o seu olhar crítico e satírico sobre os males do mundo moderno estão bem claros nesta longa-metragem.
Para os amantes do horror clássico, vem ao Fantas em competição “The Forbidden Play” de Hideo Nakata, um dos mais famosos realizadores japoneses, que realizou “The Ring” (1998), filme considerado pelo The Guardian um dos melhores 100 Filmes de Todos os Tempos, vencedor dos Festivais de Bruxelas e de Sitges, e de que foi feito “remake” pelos Americanos. Realizou ainda “Ring 2” (1999) e “Dark Water” (2002), que foi Silver Raven no Festival de Bruxelas. Em Cannes apresentou “Chatroom” em 2010. Com 11 prémios internacionais, os seus filmes foram ainda premiados em Chicago, Gérardemer, Fantasia no Canadá, e Puchon na Coreia de Sul. E o facto de ter escolhido o Fantasporto para a estreia de “The Forbidden Play” é muito importante.
Mas há mais nomes importantes na programação do Fantas 2024. Quem não conhece “X-Files”, a série de TV mais enigmática e imitada? Pois o festival vai apresentar um filme realizado por David Duchovny, a sua segunda realização, ele que foi o agente Mulder na série. “Bucky F*cking Dent” é uma terna história familiar sobre um pai e o filho que não vê há muito e conta com uma excelente interpretação no papel principal do próprio realizador. David Duchovny nasceu em 1960 em Nova Iorque e estudou nas Universidades de Princeton e Yale, licenciando-se em Literatura Inglesa. A sua carreira inicia-se como actor em “New Year’s Day” (1989) e “Bad Influence” (1990). Foi na televisão que alcançou fama, primeiro com “Twin Peaks” onde interpretou o agente Dennis Bryson e sobretudo em “The X-Files” onde obteve sucesso internacional como o agente Fox Mulder. Realizou alguns episódios desta série e depois a série “Californication” (2008-2014). “Bucky F*cking Dent” está em competição na Semana dos Realizadores.
Um fenómeno recorrente no Fantasporto é o regresso de realizadores com os seus mais recentes filmes. Assim acontece com Shinya Tsukamoto e “Shadow of Fire”. Um dos “enfants terribles” do cinema japonês, Shinya Tsukamoto veio ao Porto em 1992 e fez tremer o público do Fantasporto com a sua saga “Tetsuo”. Agora, anos mais tarde e com grande reconhecimento internacional, volta num registo totalmente diferente. Este realizador japonês já apresentou cerca de uma dezena dos seus filmes no Fantasporto, entre os quais “Tetsuo: the Iron Man” (1989), “Tetsuo: Body Hammer” (1992) , na presença do realizador, “Ichi the Killer” (2001), “Vital” (2004) e “A Snake of June”( Prémio de Melhor Actriz e Juri em 2003). Também conhecido por “Tetsuo: The Bullet Man” (2009), “Killing” (2018), “Fires on the Plain” (2014) e “Kotoko”. “Shadow of Fire” fez parte da seleção do Festival de Veneza 2023 e fala com muita sensibilidade das consequências da guerra, um tema muito actual, como infelizmente se sabe.
Ate de Jong volta também ao Porto, agora com uma Antestreia Mundial, a do seu mais recente filme, uma produção norte-americana. “Heart Strings” é uma deliciosa história de amor, uma incursão no mundo da subcultura da “música country”. Ate de Jong traz consigo os dois protagonistas, Maggie Koerner e Sam Varga, dois cantores de Nashville, que vão dar um concerto gratuito no dia 2 de Março, sábado, na véspera da exibição do filme. Embora não seja uma organização do Fantasporto, aqui fica o registo desta primeira apresentação de música “country western” em Portugal. Quem diria… Ate de Jongnasceu em 1953 em Aardenburg, Zeeland, nos Países Baixos. Realizador e argumentista conhecido por “Drop Dead Fred”(1991), “The Rotterdam Bombing” (2012), vencedor do Stony Brook Film Festival, “Highway to Hell” (1991), hoje considerado já um filme de culto e já visto no Fantasporto, e “Love is Thicker than Water” (2016) entre outros. Foi Prémio Carreira do Fantasporto 2017. “Heart Strings” é a sua nona longa-metragem. Note-se ainda que Steven Gaydos é co-argumentista e produtor. Uma verdadeira embaixada de talento que vem ao Porto para a exibição de “Heart Strings” e que vai estar presente numa “Movie Talk”, aberta a todos, no Bar do Batalha, no dia 3 de Março, falando de “Cinema Independente, Antes e Agora“
“A Normal Family” é outro filme a não perder. Apresenta-nos duas famílias visceralmente divididas entre a unidade familiar e a justiça. O realizador Jin-Ho Hur nasceu em 1963, concluiu o curso na Academy of Film Arts. A sua primeira curta-metragem, “For Kochal”, foi selecionada para o Vancouver Film Festival. Com um tema recorrente, o Amor, e já com 16 prémios internacionais, realizou entre outras, as longas-metragens “Christmas in August” (1998), que foi exibida na Semana de Crítica de Cannes, selecionado para o Chicago Film Festival e vencedor do Prémio da FIPRESCI em Pusan. Seguiu-se “One Fine Spring” (2001), “April Snow” (2005) e “Good Rain Knows” (2009). Este filme foi dos maiores êxitos de bilheteira na Coreia do Sul.
Loïc Tanson e “The Last Ashes”. Este filme é o candidato aos Óscares pelo Luxemburgo. O realizador conhecido pelo documentário “Eldorado” (2016) e a curta-metragem “Sur Le Fil” (2017). Trabalhou ainda para televisão como realizador de “Come Back” (2013) e “Routwaïssgro! (2015-2018). “The Last Ashes” (2023) é a sua primeira longa-metragem de ficção e há quem o compare à “Guerra dos Tronos”.
Guto Parente chega com “Strange Path / Estranho Caminho”, mais uma viagem pelo íntimo da família e das suas relações problemáticas, com a curiosidade de se passar durante a pandemia e falar de Portugal. Guto Parente é um realizador brasileiro nascido em 1983, é presença habitual nos maiores festivais do mundo, entre eles San Sebastián e Roterdão. É conhecido, entre outras, pela suas longas-metragens, “Road to Ithaca” (2010), “O Estranho Caso de Ezequiel” (2016), “My Own Private Hell / Inferninho” (2018), sendo a já muito premiada “Estranho Caminho” (2023) a sua sétima longa-metragem. Foi selecção dos festivais de Nashville, San Sebastián, Varsóvia e Tribeca de Nova Iorque, onde recebeu 4 prémios, entre os quais Melhor Argumento e Melhor Actor.
O realizador multipremiado Adilkhan Yerzhanov traz-nos um filme que esteve na seleção do Festival de Veneza, “Goliath” um thriller inesperado nas estepes. Nascido em 1982, este realizador e argumentista já venceu 13 prémios internacionais e épresença regular no Festival de Veneza onde já apresentou este “Goliath” e “Yellow Cat” em 2020. É ainda conhecido por “The Plague of Karatas Village” (2016), premiado no Festival de Roterdão, e “A Dark, Dark Man” (2020), entre outros. Os seus filmes são apresentados em grandes festivais como San Sebastian, Cannes, Montréal, Tallinn ou Veneza. A descobrir este cineasta do Cazaquistão, país que também nesta edição tem uma pequena retrospectiva.
No ano passado, um filme belga venceu na secção de Cinema Fantástico do Fantasporto. Chamava-se “Megalomaniac”. Para esta edição, o festival decidiu dedicar a sua atenção a este realizador singular. Karim Ouelhaj, apresentando “Parabola”, “Megalomaniac”, “Le Repas du Singe”, “L’Oeil Silencieux”, “Une Realité par Seconde”. Realizador, escritor e produtor belga, Ouelhaj teve a sua primeira longa-metragem, “Parabola”, seleccionada para o Festival de Veneza na secção oficial Giornatti degli Autori Venice Days. Este filme venceu o Prémio Federico Fellini em 2006 nos EUA, entre outros galardões. Foi a primeira longa-metragem de um tríptico dedicado à sociedade, e que incluiu “La Repas du Singe” (2013), Prémio de Melhor Actriz no Festival de Roma, e “Une Realité para Seconde” (2015). Em 2016, a sua curta-metragem fantástico “L’Oeil Silencieux” venceu o Grande Prémio e o Méliès D’Argent no Festival de Bruxelas e foi seleccionado, e premiado, em inúmeros festivais. “Megalomaniac” (2022), a sua quarta longa-metragem, inspirada na história verdadeira do Carniceiro de Mons, obteve mais de 20 prémios internacionais, incluindo Melhor Filme no Fantasia (Canadá), Melhor Filme de Horror no Macabro Film Festival (México) e Melhor Filme, Realização e Actriz no Fantasporto 2023. Vem acompanhado pela sua produtora habitual, Florence Saadi. Este realizador e a produtora estarão numa das “Movie Talks”, o espaço de debate e conferências no Bar do Batalha, a discutir qual é o “Novo Horror”.
Outra retrospectiva, desta vez vinda da Hungria, promete dar que falar. É constituída basicamente por dois tipos de filmes, uns que o Fantasporto já premiou, como “Post Mortem”, “Liza the Fox Fairy ou Preparations to Be Together for an Unlimited Period of Time” no que será provavelmente a última oportunidade de os ver. E outros, recentíssimos, como o do realizador Lajos Koltai, “Semmelweiss” sobre um dos momentos-chave da História da Medicina. Entre outros prémios prestigiados, o realizador Lajos Koltai foi nomeado para um Óscar como director de fotografia por “Malena” (2000) e venceu pela sua fotografia um Prémio do Cinema Europeu com “Sunshine” (realizado pelo vencedor do Oscar, István Szabó, em 1999). Foi também responsável pela fotografia de outros filmes nomeados para o Óscar como “Colonel Redl” (1985) e “Hanussen” (1988), e o vencedor do Oscar “Mephisto” (1981). “Semmelweis” é o seu 3º filme como realizador e sucedeu a “Evening” (2007) com Vanessa Redgrave, Natasha Richardson e Claire Danes.
Árpad Sopsits, veterano realizador húngaro, está no Fantasporto com “Supporting Actors”, em competição na Semana dos Realizadores. Árpád Sopsits estudou na Academia de Teatro e Cinema. A sua primeira longa-metragem foi “Shooting Gallery” (1989) que teve estreia na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes onde foi premiada. Seguiram-se outras, como “Videoblues” (1992) e “Abandoned” (2000) igualmente premiadas. Depois vieram, entre outros filmes, “The Seventh Circle” em 2009, Melhor Filme do Festival de Amsterdão, e “Strangled” (2016) que também integra esta Retrospectiva Húngara.
Uma das surpresas da programação é a longa-metragem espanhola de Gonzalo López-Gallego, “La Sombra del Tiburón”, apresentado em Antestreia Mundial, sobre uma mulher que não consegue dormir. Sem dúvida, uma expressão do brilhante cinema de horror deste país, com uma interpretação espantosa da actriz Alba Galocha. Também de Espanha vem “La Mujer Dormida”, uma ficção da produtora Filmax sobre uma jovem que vai ser cuidadora de uma mulher em coma numa aldeia remota. Emoção a rodos.
Outros países mandaram-nos os seus melhores filmes do ano. Entre eles, está “Invisible Windows” da Índia. O seu realizador, Dr Bijukumar Damodaran, três vezes vencedor do Prémio Nacional de Cinema da Índia e selecionador para os Óscares em 2015, apresentou o seu primeiro filme, “Saira” em 2007 no Festival de Cannes. Seguiram-se outros filmes que receberam inúmeros galardões por todo o mundo, nomeadamente no Festival de Shanghai, Cannes, Moscovo, Chicago, Tallin e também no Fantasporto com “Painting Life” (2018) onde foi Prémio da Crítica. Com 23 prémios internacionais, é, entre outros, conhecido também por “Birds with Large Wings” (2015), “Sound of Silence” (2017), vencedor do Festival de Cincinatti, e “Trees Under the Sun” (2019), premiado como Melhor Filme em Toulouse. E se há filme que levanta os problemas da industrialização e da instabilidade mundial actual é este “Invisible Windows” e conta com uma interpretação brilhante de uma mega-estrela, o actor Tovino Thomas. Está a concurso na Semana dos Realizadores e irá surpreender.
Outro filme a não perder e que fecha a Cerimónia de Entrega dos Prémios no dia 9 de Março, é o do realizador chinês Wuershan. Chama-se “Creation of the Gods1: Kingdom of the Storms” e é considerado o Melhor Filme Chinês Do Ano. E para quem o ver, sem dúvida concordará com o alcance deste épico cujo orçamento gigantesco está bem patente no sumptuoso guarda-roupa e na qualidade técnico-artística do filme. E para quem pense que já viu tudo, note-se a qualidade da narrativa, uma história de reis e súbditos, de batalhas e de amor, num festival de efeitos especiais e artes marciais. Passa em competição de Cinema Fantástico. Wuershan nasceu em 1972 na Mongólia. Estudou na Academia Central de Belas Artes e depois na Academia de Cinema de Beijing. Em 2004 produziu e realizou “Soap Opera” que ganhou o Prémio FIPRESCI no Festival de Busan. Seguiu-se “The Butcher, the Chef and the Swordsman” (2011) que venceu o Golden Horse de Realização e de Argumento. Seguiu-se uma premiada carreira com “Mijin: The Lost Legend” (2015), o segundo maior êxito de bilheteira na China. “Creation of the Gods I: Kingdom of Storms” (2023) é a sua mais recente super-produção, como disse, vencedora do Prémio de Melhor Filme Chinês do Ano e terá ainda duas sequelas.
Também da China, chegam dois magníficos thrillers, “Lost in the Stars” de Cui Rui e Liu Xiang, intrigante e um dos melhores argumentos do festival. É a história de um homem que diz que a mulher dele desapareceu e a que tem lá em casa é uma impostora. “Within” de Dalu Guo, leva-nos às consequências do passado sobre o presente. Ambos estão em competição na Semana dos Realizadores.
Um dos sectores a não perder é o das curtas-metragens fantásticas em competição, fabulosos exemplos do rumo do cinema mundial, e sobretudo do cinema de animação. Umas vindas de escolas de cinema, outras já de cineastas experientes, umas de animação, outras de imagem real, todas elas exemplos do melhor que se faz no mundo. Saliente-se “Stabat Mater” um filme feito numa escola de animação francesa ou o excelente “Ciela” do México, “Vão das Almas”, curta brasileira do nosso conhecido Santiago Dellape, já premiado no Fantas com a longa-metragem “A Repartição do Tempo”, ou “Alicia” de Tony Morales,vencedor já deste prémio no Fantasporto com “Abracitos” em 2021. Veja-se ainda a intensidade emocional do espanhol “La Condena” ou a beleza de “Elegy”, filme belga em Antestreia Mundial.
Junte-se ainda a estes os filmes do Prémio de Cinema Português em Antestreia Mundial e os que representam as respectivas Escolas e Universidades com cursos de cinema. Há ainda os filmes portugueses fora de competição, alguns já premiados em dezenas de festivais e eventos como “O Nosso Caminho” de Pedro Gil Vasconcelos, ou “Era uma vez no Apocalipse” de Tiago Pimentel, um habitué do Fantas, que conta com uma magnífica interpretação do conhecido Sérgio Godinho. Para surpreender também, a concurso, “Best Cop Ever”, de João Bruno, uma ficção científica cheia de amor pelo cinema, e “Carne: A Pegada Insustentável” de Hugo Almeida, a um documentário que dá muito que pensar.
Haverá ainda as “Movie Talks”, espaço de debate entre espectadores, estudantes de cinema e público em geral com alguns dos convidados do festival, a terem lugar no bar do Batalha. Será lá que o escritor e crítico de cinema Pedro Garcia Rosado vai falar de “Streaming Vs Sala de Cinema” , um tema fundamental hoje em dia, e o jornalista e historiador Danyel Guerra vai explicar as origens da “Nouvelle Vague” cujos expoentes máximos foram François Truffaut, Jean -Luc Godard e a revista Cahiers du Cinéma. Isto apara além da de Steven Gaydos sobre fazer “Cinema Independente “e a de Karim Ouelhaj sobre “O Novo Horror”, como mencionei em cima.
Por tudo isto, e o mais que ainda haverá, vá ao Fantasporto e fique pelo Batalha até altas horas da noite. A última sessão começa sempre depois das 23 h.»