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“You Resemble Me” abre 10.º Olhares do Mediterrâneo

Escrito por em 04/11/2023

Começa no próximo dia 9 de novembro o Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, iniciativa que tem como missão divulgar o cinema feito por mulheres oriundas de países do Mediterrâneo.

A abrir a 10.ª edição será exibido, em estreia nacional, o filme “You Resemble Me” de Dina Amer, que aborda uma das questões mais sombrias do nosso tempo, a radicalização, e desconstrói-a numa narração íntima sobre família, amor, e pertença. Produzido por Spike Lee e Spike Jonze, este filme é uma história crua sobre traumas culturais e intergeracionais nos subúrbios de Paris e esteve nomeado para o prémio Giornate degli Autori, na última Bienal de Veneza, tendo recebido mais de 20 prémios em festivais por todo o mundo.

Grande parte da programação do Festival é composta pelas suas quatro secções competitivas: longas-metragens, curtas-metragens, Travessias e Começar a Olhar.

Cinco obras integram a competição Geral de Longas-Metragens

Depois da estreia mundial na Bienal de Veneza, o filme italiano “The Matchmaker” de Benedetta Argentieri é apresentado pela primeira vez no nosso país. Esta é a história de Tooba Gondal, uma das mais mal-famadas jihadistas britânicas, que aos 20 anos deixou Londres para se juntar ao Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) e tornar-se mundialmente famosa como “a casamenteira do ISIS” depois de recrutar uma dúzia de mulheres ocidentais para se casarem com combatentes jihadistas.

“The Wedding Parade”, da curda síria Sevinaz Evdike, uma ficção sobre uma cidade na fronteira entre a Síria e a Turquia ameaçada pela guerra, que obriga três jovens curdas a mudar os seus sonhos encontra-se também em competição, assim como “Foragers”, de Jumana Manna, uma obra palestiniana, que se situa entre o documentário e a ficção para retratar a tensão entre a Autoridade Israelita de Proteção da Natureza e os respigadores palestinos, integram simultaneamente a secção Travessias.

De Portugal, estão em competição duas longas-metragens: “Quatro Mulheres ao Pé da Água”, a mais recente obra de Cláudia Clemente, que vai ter a sua estreia europeia neste Festival depois de ter sido apresentada no Japão e que é sobre os relatos de quatro mulheres sobre um homem que recentemente morreu; e “Uma Situação Temporária”, de Ânia Bento, que acompanha a vida de duas mulheres, que vivem em Lisboa e trabalham numa loja de bijuteria, para pagar as suas contas. Através delas vislumbramos o sistema social-económico português.

24 curtas-metragens na Competição Geral de Curtas

Na secção de competição de curtas-metragens, vão ser apresentados 24 filmes, muitos deles em estreia nacional, entre eles: “Bystander” de Rachel Aoun, uma coprodução do Líbano e Qatar (Prémio do Júri no Festival Signes de Nuit, Prémio do Júri no Panorama Short FF Tunísia), “Magical Thinking” de Eva Saiz (Melhor Fotografia, Semana del Cortometraje de Medina del Campo e Prémio “Manuel Carmona Mir” na Semana de Cine de Melilla), “My Girl Friend” filme egípcio de Kawthar Younis, que teve estreia mundial na Bienal de Veneza, “Nothing Holier Than a Dolphin” da grega Isabella Margara (Prémio do Público Clermont-Ferrand) ou “On My Father’s Grave”, uma coprodução entre França e Marrocos, realizada por Jawahine Zentar (Prémio Internacional do Júri no Brussels Short Film Festival e selecção oficial para Clermont-Ferrand International Short FF).

Começar a Olhar: secção competitiva dedicada a filmes de escola

Ainda em competição, vão ser apresentados 15 filmes que integram a secção “Começar a Olhar”, dedicada a filmes realizados ainda no contexto escolar. Desta selecção fazem parte obras internacionais, como “Once Again” de Giulia Di Maggio, filme italiano que teve a sua estreia mundial no Vision du Réel e depois disso já foi exibido em inúmeros festivais internacionais tendo recebido vários prémios, “The Artichoke Season”, obra israelita de Orna Rottenberg, que fez parte da selecção oficial do Tribeca Film Festival; e obras portuguesas,
como “Borderline” de Leonor Rocha Oliveira, que ganhou o Prémio Sophia Estudante.

Travessias: filmes sobre migrações, racismo e colonialismo

A secção Travessias é composta por 8 filmes que abordam temas como migrações, racismo e colonialismo enquanto elementos estruturais da sociedade. É neste contexto que é exibido o documentário francês “Aldebaran”, onde a realizadora Emma Danion relembra a história nuclear entre o governo francês e a Polinésia, recorrendo a uma série de imagens de arquivo filmadas por membros da Marinha Francesa.

Depois da estreia mundial na Bienal de Veneza, na secção Orizzonti Short Films Competition e de ter recebido mais de 30 prémios por todo mundo, é apresentado o filme italiano “Tria”, de Giulia Grandinetti, que tem ação numa Roma distópica, onde é aplicada uma lei que não permite que famílias de imigrantes tenham mais de três filhos.

Em estreia mundial, é exibido “Inventário em Vida”, filme da realizadora brasileira Bianca Turner, que parte das linhas de demarcação do Tratado de Tordesilhas para traçar o corpo feminino, questionando a noção de Terra e Posse.

Realizado a três mãos por Adriana Cardoso, Rodrigo Hernández, Edu Marín, a coprodução espanhola e mexicana “Serigne” é um documentário sobre Serigne Mbayé, que chegou a Espanha num barco vindo do Senegal e que, após 15 anos de luta antirracista, se dedica à política, estando decidido a enfrentar a União Europeia.

O documentário português “Dentu Zona” realizado por Eliana Caleia sobre um dia na vida de um africano que é proprietário de uma livraria/biblioteca e de uma marca de roupa sustentável no bairro da Cova da Moura em Lisboa integra esta secção, assim como a secção Começar a Olhar, tal como o filme franco-libanês “Our Beautiful Eyes” de Fatima Joumaa sobre estudantes africanos e do Médio Oriente a frequentar a escola de cinema em Paris.

Por fim, integram esta secção dois filmes que também estão em competição de longas-metragens, nomeadamente “The Wedding Parade” e “Foragers”.

Premiado filme espanhol “Lullaby” é o filme de encerramento da secção competitiva

O filme que encerra a programação da secção competitiva no Cinema São Jorge, no dia 12 de novembro é “Lullaby” de Alauda Ruiz de Azúa, filme espanhol que esteve na Seleção oficial Secção Panorama, recebeu o Prémio Melhor Primeira Obra na Berlinale, e recebeu os Prémios de Melhor Atriz, Melhor Atriz Secundária, Melhor Nova Realizadora nos Prémios Goya e Melhor Filme Europeu no Prémios Gaudí, Espanha.

Sessão para famílias no domingo de manhã

No dia 12 de novembro de manhã, o Festival programa ainda uma sessão destinada a crianças dos 6 aos 12 anos, com a exibição de quatro curtas-metragens: “Foxtale”, “Blink of an Eye”, “Hellscape”, “Witches”, e “I Come From the Sea”.

A programação do Olhares do Mediterrâneo continua na Cinemateca Portuguesa com uma seleção de filmes de realizadoras da Turquia, de 13 a 16 de novembro, uma secção especial intitulada Olhares da Turquia.

Nesta 10.ª edição do Olhares do Mediterrâneo são apresentados filmes de vários géneros cinematográficos (documentário, ficção, animação, experimental), de realizadoras consagradas e debutantes, que abordam temas tão variados como as questões de género, o racismo, o (de)colonialismo, o terrorismo e a radicalização, a questão do acesso à habitação, mas também histórias pessoais e familiares.

Além das sessões do cinema, o Festival programa ainda inúmeras atividades paralelas no Cinema São Jorge, como debates a partir de filmes em competição, um workshop de escrita para cinema com a realizadora Cláudia Clemente, um workshop de colagem com a artista Ap Silvestre, uma masterclass com a jornalista e realizadora Benedetta Argentieri, uma oficina de cantos do Mediterrâneo com as musicólogas Camilla Piccolo e Laura Venturini; lançamentos de livros, o acolhimento de três livrarias e um concerto. Haverá ainda no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, um seminário sobre Cuidado e Envelhecimento, no âmbito do qual será apresentado o documentário “CareSeekers” (Itália, 2023, de Teresa Sala) e no Goethe Institut um encontro Olhares do Mediterrâneo / MUTIM (Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento) sobre os desafios da programação de cinema feito por mulheres. A masterclass, o workshop de escrita para cinema e o encontro sobre programação cinematográfica fazem parte do Programa de Indústria, uma das “novidades” desta 10.ª edição do Festival, revela a organização.

O festival vai trazer a Lisboa vários convidados, a anunciar “muito” brevemente. Olhares do Mediterrâneo – Women Film Festival “é o mais antigo festival de cinema feito por mulheres em Portugal, e é o único dedicado à cinematografia da bacia do Mediterrâneo”. O festival é um projeto do grupo Olhares do Mediterrâneo e do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia.