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Sol da Caparica: melhorias e um grande cartaz ao 8.º ano

Escrito por em 19/08/2023

De 17 a 20 de agosto o Parque Urbano da Costa da Caparica voltou a receber um cartaz recheado de música lusófona em quatro dias muito compostos de público de todas as idades e gostos.

Ao terceiro dia, Jüra atuou ao final da tarde no Palco Kavi Music (editora discográfica que representa alguns dos nomes mais sonantes da indústria musical guineense) na 8.ª edição do festival Sol da Caparica. Considerada uma grande revelação da música emergente em Portugal, a cantora não se cansou de interagir com os fãs e dar “lições” comportamentais que conduzam à felicidade coletiva. Uma delas, assenta na importância do auto-conhecimento que ganhou maior expressão ao ter interpretado ‘VOLTARPRAMIM’.

Com um talentoso bailarino em palco, a cantora (Joana Silva) agiu como já tem sido costume: de coração aberto e a demonstrar uma certa vulnerabilidade com a qual facilmente empatizamos.

‘Diz-me’ é outro tema que mostra a sua verdade e que também é do agrado dos fãs que foram chegando à medida que o concerto se ia desenrolando.

Pouco público mas bastante música. Falamos dos Duque Província, acima de tudo um grupo de amigos que se diverte em cima do palco (no caso o Red Tazz) como se estivessem na garagem de um deles. E eles são Henrique Gonçalves (voz, guitarra), António Horgan (teclados), Philippe Keil (baixo) e Francisco Cunha (bateria). Os dois últimos tocaram duas vezes no Sol da Caparica, dado que integram a banda de Fernando Cunha (pai do baterista; Delfins, Ar de Rock, Resistência), responsável por um dos melhores concertos da corrente edição do festival. Regressando aos Duque Província, o coletivo soube comunicar e brincar com o público, mostrou que o álbum de estreia “2032” vale a escuta e guardou para o fim ‘Prata da Casa’, o último single, a demonstrar vontade de explorar caminhos mais dançáveis.

Ao início da noite de 19 de agosto, o artista que começou a atrair a multidão ao palco principal foi o lisboeta João Pedro Pais, que está a celebrar os seus 25 anos de carreira.

O cantor, humilde como sempre, não se cansou de agradecer a todos os fãs que o ajudaram a chegar a este marco de quarto de século dedicado à música. “Os mais velhos vão lembrar-se bem, os vossos pais, avós…”, foi dizendo, embora num olhar atento à nossa volta, se verificasse facilmente que nem só de “pais e avós” se faz a imensidão de fãs do cantor; muitos jovens conhecem-lhe as baladas e os refrões mais rockeiros que inspiraram muitas e muitas fotografias para as redes sociais.

O concerto ficou bem marcado pela entrega entre o público e músicos além de, claro, do próprio João Pedro Pais. A interação foi muita, simpática, simples e direta, e pontuada pelos saltos em claro que já há uns anos caracterizam as suas atuações a cada momento mais vibrante.

Passar por um pouco dos temas que pontuaram estes 25 anos de carreira (concertos a 7 de outubro no Coliseu do Porto e a 4 de novembro no de Lisboa) do cantor e compositor, não foi difícil. Ou melhor, difícil terá sido selecionar as que cabiam na curta hora de atuação destinada ao eterno jovem vencedor do “Chuva de Estrelas” em 1995 (não queremos mesmo fazer contas, pois não? 😉 ).

Foi em novembro de 1997 que lançou o seu primeiro álbum, “Segredos”, que se tornou um sucesso. ‘Louco Por Ti’, aqui cantada, foi bem um exemplo de como o tempo não passa pelas suas canções. Em 1999 chegou “Outra Vez”, o segundo disco do cantor e daqui surge o também grande êxito ‘Mentira’, nomeado para Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção. E nesta atuação nem foi necessária grande intervenção de João Pedro Pais no tema: o público sabe-a na ponta da língua e sente-a a cada lágrima que foi possível testemunhar nos ecrãs gigantes. Entusiasmo semelhante verificou-se com ‘Nada de Nada’.

“Amor Urbano” é, por outro lado, o seu 9.º álbum de originais que foi lançado no ano passado e de onde sai ‘Uma Questão de Fé’, outro pico de aplausos no festival.

‘Havemos de Lá Chegar’, do álbum “Desassossego” de 2012, o 6.º de originais, foi o tema escolhido para o “micro” encore a que tivemos direito neste Sol da Caparica. Um dos melhores momentos da atuação.

Comovente, com garra e apaixonado. É assim que João Pedro Pais continua a apresentar-se ao seu público.

Também emotiva e culturalmente rica foi a atuação da fadista Mariza no mesmo palco, o Dom Tápparo. Aqui, nota menos positiva para o típico “silêncio que se vai cantar o fado” que não se notou. No início do seu espetáculo, e nos momentos mais intimistas, todo o som dos outros palcos entrava pelo principal adentro, fazendo com que o recato a que ‘Estranha Forma de Vida’ obriga, não se verificasse. Felizmente, Mariza sabia bem o público que tinha à sua frente e logo conduziu o seu concerto numa toada menos pesada e a passar pelos temas que dela tão bem conhecemos e que já não tiveram propriamente origem nas tabernas e bairros típicos de Lisboa. Refiro-me, por exemplo, a ‘O Tempo Não Para’, que teve direito à presença do filho Martim em palco e ‘Quem Me Dera’.

Vestida integralmente em tons de pérola, Mariza também foi-se mostrando cada vez mais solta e simpática. Mesmo depois de ter ficado sem som no microfone logo no início da interpretação da segunda canção: ‘Maria Lisboa’.

Mais à frente, o público ficou eufórico e dançou como se estivesse num gigante baile ao som de ‘Maria Joana’, tema de Nuno Barroso em que também a fadista participa ao lado dos Calema.

‘Melhor de Mim’ foi um momento muito comovente para assegurar que nos fica na retina a expressividade, paixão, técnica e beleza absoluta da sua voz. Tudo termina com ‘Gente da Minha Terra’ com a cantora já no meio do público. Mariza é, definitivamente, uma das fadistas que mais contribuiu para modernizar o fado, dando-lhe uma vida tão nova que subiu ao Sol da Caparica.

Fotografia de João Pedro Pais, no festival Sol da Caparica, por Carlos Almeida.