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Bia Ferreira encerra Festival Língua Terra em Setúbal

Escrito por em 22/06/2023

Bia Ferreira, artista e ativista brasileira – uma das preferidas da TunetRádio, com um ID bem ‘sui generis’ gravado no Womex 2022 -, regressa a Portugal e encerra a terceira edição do Festival Língua Terra, no dia 2 de julho, às 21:30, no Fórum Luísa Todi, em Setúbal.

Workshop, cinema e música “de qualidade” inseridos no cartaz do Festival Língua Terra “contribuíram para o sucesso do evento”, que teve lotação esgotada no concerto de Adriana Calcanhotto com a colaboração de Salvador Sobral.

A terceira edição do evento, que faz que a ligação entre culturas de países que falam o mesmo idioma, encerra “em grande” ao trazer ao palco do Fórum Luísa Todi, no dia 2 de julho, a cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira Bia Ferreira, “que está a conquistar cada vez mais público com a sua mensagem politizada”. Bia irá apresentar-se no formato voz e violão e relembrar sucessos como “Cota Não É Esmola”, “De Dentro do Apê” e “Não Precisa Ser Amélia”, além de composições do seu disco editado em 2022, “Faminta”. Com quase uma década de atuação e presença nos grandes circuitos musicais, a artista ecoa para além do seu trabalho o respeito à comunidade LGBTQIAP+, o combate ao racismo e à xenofobia. Como a própria artista define, a sua música é “MMP – Música de Mulher Preta”, e trata de temáticas sociais importantes.

A primeira parte do concerto é da sua compatriota Bárbara Eugênia. A cantora e compositora vai atuar em formato voz e violão e levar ao palco uma mistura de ritmos brasileiros, rock, folk e música eletrónica em temas de sua autoria, como “Perfeitamente imperfeita” e “Coração”, além de sucessos de outros artistas.

Bia Ferreira nasceu na cidade de Minas Gerais, no Brasil e iniciou suas atividades musicais em 2009, aos 15 anos. “Fortemente politizada”, a sua música passeia por ritmos afro diaspóricos como o soul, o R&B e o rap, mesclados a referências da música brasileira como o samba e o repente. Compositora reconhecida por letras contundentes, visa facilitar a compreensão de temas importantes como necropolítica, cotas raciais, antirracismo, a luta pelos direitos das mulheres, da população LGBTQIAP+ e a “afetividade destes corpes”, a fim de pautar tecnologias de sobrevivência através da arte”.

Por envolver temáticas ligadas ao então inédito sistema de cotas no SISU e a questões estreitamente ligadas à subalternidade das mulheres negras no Brasil, gerou “muita identificação” por parte das pessoas que, ao ouvi-la, se identificavam com a narrativa.

Mas foi em 2018, através do Sofar Sounds, que “Cota Não É Esmola” atingiu o grande público. De lá pra cá, é o vídeo mais assistido do Sofar Sounds na América Latina e o quarto vídeo mais assistido desse mesmo projeto no mundo, além de ser leitura obrigatória para os vestibulares da Universidade de Brasília e ser citado em várias provas universitárias e secundaristas pelo Brasil.

O seu primeiro álbum em estúdio, “Igreja Lesbiteriana, Um Chamado”, foi editado em setembro de 2019, com produção de Vinicius Lezo. A igreja referida no título remete a um espaço de acolhimento às pessoas que o “cristianismo” rejeitou. Seja pelo posicionamento político ou pela orientação sexual. “Igreja Lesbiteriana” é sobre afeto e informação como tecnologia de sobrevivência para pessoas negras, indígenas LES BI T erianas, pregando a emancipação social, política e afetiva desses corpos enquanto um avanço social.

Em espectáculos mais recentes esteve na Europa, sendo aclamada pelo público e pela crítica. Foi convidada a escrever uma coluna no Jornal O Público, em Portugal, e tem tocado nas rádios europeias. A inaugurar uma nova fase na sua carreira, Bia tem adotado, na sua narrativa, letras mais focadas em oferecer soluções para os problemas que ela outrora denunciava.

Em 2022 lançou um novo disco intitulado “Faminta”. Neste álbum, a cantora e compositora traz 21 temas, com canções que se encarregam de fazer uma análise da conjuntura política dos últimos quatro anos no Brasil, com intuito de pautar o acesso à informação e ao conhecimento como a maior arma contra a desinformação e abandono que se instaurou no país. Nesta obra, a artista utiliza a linguagem pop das “lovesongs”, assim como investe no ritmo e poesia (RAP) como forma de alcançar novos ouvintes para sua pregação. A última vez que um artista brasileiro lançou um álbum de 21 músicas foi nos anos 2000.

Festival Língua Terra

A terceira edição do Festival Língua Terra arrancou a 3 de junho com uma programação diversa que, além dos concertos, abrangeu desde workshops a exibições de cinema, o Fórum Luísa Todi e o Cinema Charlot – Auditório Municipal, em Setúbal, nos meses de junho e julho.

Assim, esta edição do Língua Terra volta a privilegiar as manifestações culturais do Brasil, dando ênfase à expressão artística feminina, sendo o cartaz composto na sua totalidade por mulheres que encontram na Arte uma fonte de expressão.

A música está “muito bem” representada por dois “grandes talentos” da música brasileira: Adriana Calcanhotto, que convidou Salvador Sobral para colaborar em seu concerto no dia 5 de junho, e por Bia Ferreira que vai apresentar-se a 2 de julho, ambas em digressão para promoção de seus novos álbuns. E mais: a artista educadora Dani Zulu, com o workshop “Iniciação à percussão corporal”, abriu o festival no dia 3 de junho.

O cartaz completa-se com a exibição dos documentários “Aleluia: O Canto Infinito”, de Tenille Bezerra, no dia 7 de junho; “Filhos de João: O Admirável Mundo Novo Baiano”, de Henrique Dantas, no dia 14 de junho e “Aquilo que Eu Nunca Perdi”, de Marina Thomé, no dia 21 de junho.

Segundo Mônica Cosas, fundadora e diretora da empresa AKassá Produções Artísticas, que gere o projeto e que atua no mercado há mais de 20 anos “o festival Língua Terra nasce com o intuito de promover o intercâmbio entre artistas de seis países unidos pela língua portuguesa e fomentar conexões culturais e criações artísticas colaborativas”.

Nas edições anteriores passaram pelo Língua Terra os espetáculos de Bonga (Angola), Elida Almeida (Cabo Verde), Paulo Flores (Angola), Simone Sou (Brasil), a peça teatral “Chovem Amores na Rua do Matador”, dos grandes autores moçambicanos Mia Couto e José Eduardo Agualusa, e um “bate papo” chamado “Conversas entre Kotas”, entre Bonga, Betinho Feijó e Pedro Coquenão (Batida), com a intenção de apresentar uma variedade única de ritmos e formatos.

Fotografia de Bia Ferreira por Camila Tuon.