A mão direita de Jeff Beck – a mais bela melodia do mundo
Escrito por Tiago Pereira da Silva em 14/01/2023
Estou para aqui a barafustar comigo mesmo. É que vejam bem é preciso alguma coragem para escrever sobre o guitarrista Jeff Beck. Há, claro está, uma certa raiva e inconformismo, parece que todos os nossos heróis musicais estão a morrer. Caramba, estes tipos povoaram-me a adolescência toda. Não creio enganar-me se disser que o solo de guitarra de «People Get Ready» é o que mais vezes ouvi na vida. Há certas coisas que são para descrever. Mas este solo não, é, simplesmente para ouvir alto porque o resto impor-se-á naturalmente.
Mas vou tentar ir um pouco mais atrás. E não quero com isto cansar ninguém, mas de certa forma é como se sentisse o coração rasgado. Devo ter “deitado” o ouvido sobre milhares e milhares de horas de discos. No que ao Rock n´Roll diz respeito, talvez a esmagadora maioria. E mesmo que tivesse começado por aprender a sua linguagem original, dos anos 1950 com Chuck Berry, mais tarde ou mais cedo iria parar à grande “invasão britânica” dos anos 1960. E falar do Rock é também colocar a guitarra no pedestal do instrumento mais representativo dentro do género. Não vale a pena tentarem contrariar-me nesta matéria, algumas das mais belas melodias criadas saíram de músicos como: Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page, Jeff Beck, David Guilmour, Brian May, etc.
Apropriando-me da ideia do músico John Mayer sobre Stevie Ray, parece-me absolutamente necessário validar ainda mais a frase: de que a maior parte dos bons guitarristas são uma espécie de periódicos, marcam um tempo, uma época, por vezes uns poucos anos. Jeff Beck é uma referência sagrada, traça definitivamente a história da guitarra eléctrica. A inovação e revolução trazida consigo no que à guitarra diz respeito, não é seguramente tão reconhecida como a de Jimi Hendrix, mas isso não significa que não tenha sido tão importante. Era dos três gigantes ingleses, daquela era, o mais original de todos. Alguém por aqui já ouviu: «Where Were You»? Vou dar um empurrãozinho, Brian May acabou de dizer que é o pedaço de arte mais bonito alguma vez feito numa guitarra eléctrica.
Bem vistas as coisas, por mais guitarristas que ouçamos estamos num reino, como nos diz Rick Beato em que sentimos mesmo que ele é um de uma lista de um. Quando ouvimos por exemplo este «Goodbye Pork Pie Hat/Brush with the Blues» de Charles Mingus, maravilhosamente acompanhada pela baixista Tal Wilkenfield e o baterista Vinnie Colaiuta – percebemos que o som de Beck não é copiável. Absolutamente ninguém, mas ninguém mesmo, soa como ele. Veja-se aqui aquela mão direita (porra), a forma como ataca a “whammy bar” da sua maravilhosa Strat. Nunca é igual. Há notas suas que tanto são de uma suavidade comovente, como de uma agressividade ameaçadora. O ritmo implacável que emprega a certas harmonias, sugere-me sempre a imagem de um rapaz a disparar arte dentro de uma arma. E ele tem, desculpem, tinha aquela coisa só sua, de que cada nota – parece ter um volume diferente. O que efetivamente acontece.
Jeff Beck tocou praticamente todos os géneros musicais. E com uma imensidão de músicos, uns mais emblemáticos que outros, mas sempre de uma generosidade e simplicidade contagiantes. A todos, sem excepção, emprestou o som da sua mão direita – a mais bela melodia do mundo.