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SOMOS TODOS FORTES

Escrito por em 22/12/2022

Com 2022 quase a terminar, relembro as palavras que um amigo que fiz em Bruxelas, do Ruanda, partilhou comigo em novembro, quando após me contar a sua impressionante história para chegar à Europa, eu lhe dizia o quanto o considerava forte e corajoso.

– Somos todos fortes.

Respondeu.

O que me recordou que o que realmente importa, não será tanto o conteúdo da mensagem, mas quem a profere. Onde, quando, como e porquê.

Da mesma forma que, o que me ficou das “Vinhas da Ira” do Steinbeck, foi que a única verdadeira e desinteressada ajuda que um dia alguém poderia levar desta vida, seria aquela daqueles que um dia dela também mais precisaram.

Sempre gostei de imaginar que de uma vida se deveria fazer pelo menos um livro ou então um álbum de recortes ou fotografias.

Sempre procurei perceber melhor o enredo ou encontrar um outro significado para o conceito de riqueza. Uma origem, uma essência, uma música, ou quem sabe apenas um momento para conseguir chegar aos outros.

Habitantes do outro espaço.

Do Passado, Presente e Futuro.

[Um álbum de fotografias ou um livro.]

Já nem sequer penso no quão ilógico isto poderá soar para a maioria. Este ano percebi finalmente que o é. E que talvez tenha dedicado já o tempo suficiente a tentar convencer os demais, e a mim própria, de todo o meu amor e boa intenção.

[O que realmente importa não é o conteúdo, mas quem profere a mensagem. Onde, quando, como e porquê.]

Uns precisam de muito. Outros precisam de pouco.

Encontrar o pouco que nos faz felizes, sempre me pareceu demanda que uma só vida poderá não ser suficiente para realizar. Mas, quem sabe, talvez seja a única esperança dos que apenas ambicionam viver até morrer.

Sinto-me grata pela possibilidade que tenho de ainda poder viver, querer e escolher. Mesmo quando, procurar, questionar e arriscar, implica sofrer, de forma tantas vezes solitária e quase insuportável, uma espécie de responsabilidade sem medo que quase consegue encontrar paz no colo dos outros.

Hoje percebo um pouco melhor como esta minha responsabilidade individual sempre foi uma responsabilidade partilhada.

Nem em criança me senti merecedora de um sonho pelo qual não fosse capaz de assumir responsabilidade.

Para mim, os sonhos mais bonitos de todos, são os sonhos que pertencem a todos.

O momento pode até ser crítico, injusto, triste e deprimente para o planeta, para a democracia e para os seres humanos. Mas, como o destino tantas vezes se encarregou de me demonstrar, a dificuldade apenas o poderá tornar mais significativo.

Inteligentes, rápidos e pesados são os golpes que ameaçam fazer desabar a casa onde um dia todos quisemos morar juntos. Mas, às vezes só as efémeras borboletas, que um dia também foram lagartas, são capazes de voar alto o suficiente para, com toda a sua leveza e coragem, encantar de novo o coração dos homens.

Nunca é tarde.

No Ruanda, ou aqui.

Somos todos fortes.

Boas festas e feliz ano novo.

(Filipa, 22.12.2022)