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Não há heróis perfeitos no Futebol. Só Messi!

Escrito por em 21/12/2022

Amigos, o português é uma figura singular. Parece que por estes dias e em plena ressaca do mundial é uma heresia ser devoto do futebol do astro argentino Lionel Messi. E não é de todo inocente começar com a palavra «amigos». Não pretendo criar confusão por aqui, mas por falar em Brasil, o que resulta para mim do dia de hoje é que descobri que Deus não é brasileiro. É isso mesmo que leram, aos vinte e um dias do mês de dezembro, do ano dois mil e vinte e dois, o mundo constata que deus não é brasileiro. Vá, pelo menos, eu constatei.

Creio que já, antes, manifestei alguma preocupação em dividir a realidade entre dois mundos, como por exemplo: entre homens e mulheres, entre religiosos e ateus, entre católicos e Muçulmanos, ou entre os que gostam de CR7 e os que gostam de Messi. Quando temos necessidade de proclamar o nosso amor por “La Pulga”, não significa isso que estejamos a abdicar da cidadania portuguesa como alguns parecem fazer crer. Desculpem, esqueci-me de colocar a palavra «astro» antes do substantivo. E eu nem sou muito de anteposições com adjetivos. Mas adiante. Não significa também que quando se elogia Messi, Cristiano se possa sentir afrontado. Quer dizer, eu não estou ao seu lado quando o fazem e mesmo se estivesse, nada sei sobre microexpressões. Embora deva confessar, que me sinto tentado. Já percebi que se ganha balúrdios, em vir para a televisão “mandar uns bitaites” sobre linguagem não verbal.

Mas não dispersemos, garanto-vos que o CR7 não fica zangado com o elogio ao astro argentino. Ele pelo menos, não! Porém, não estou seguro que possa falar por toda o clã: Aveiro. Pelo sim, pelo não, era bom que no final da leitura, ninguém mostrasse esta crónica a Kátia ou Elma Aveiro. Ainda sou bloqueado e não me dá jeito nenhum. Quer dizer, deve haver coisas piores do que não poder deliciar-me nas redes sociais das irmãs de Cristiano Ronaldo. Sei lá, nunca apanhei escorbuto, ou assim, mas estou seguro de que se me retirassem esse elmo literário diário, seria como uma facada no meu bucho saudável.

Vamos ao que interessa!

Lembram-se daqueles anúncios da Nike dos anos 1990, em que sobre a imagem dos jogadores portugueses Rui Costas e Luís Figo apareciam as frases: “Castigo máximo – ter de marcar Figo” e “Inferioridade numérica: jogar contra a equipa de Rui Costa”?

– Juntem as duas asserções e têm: Messi.

Não quero alarmar ninguém, mas passo a explicar para os dois ou três leitores que não entenderam. O Futebol de Messi está para a poesia, como a canção de Chico Buarque «Construção» está para a gramática de língua portuguesa. Não, claro que não vou chatear ninguém com a famosa proparoxítona de Chico. Mas contínuo convencido, de que “A operação de mudar uma coisa para outro sítio causa uma perturbação na ordem, mas funda uma nova ordem”. E a nova ordem parece ser, para quem num jogo tem a responsabilidade de marcar Messi: um castigo máximo. E as equipas que o defrontam, possam sentir por uma vez que seja na vida e por 90 minutos, o que é de facto jogar em: inferioridade numérica.

Messi com uma bola debaixo dos pés é um regalo para os olhos. Reconfortante para quem gosta de futebol e perturbador para quem não o entende. Um drible seu é um infindável número deste verbo copulativo. É o devorar uma imagem a cada instante. É poesia irrepetível. É como se o mundo parasse por inteiro, petrificasse os defesas ali diante de todos os olhares do mundo e só se vislumbrasse movimento no mago esquerdino.

Ninguém no seu perfeito juízo poderá dizer que alguém se equipara sequer a Messi. Vá…para os seguidores de um outro tipo de Cristianismo, é, uma bênção ter Cristiano como Português. É revigorante para a alma lusa perceber que CR7 é muito provavelmente, o jogador mais completo da história do futebol. Para além de todos os recordes, de golos, prémios, etc., convém recordar que foi exímio no 1×1, na finta curta, na finalização de pé esquerdo (seu pior pé), de cabeça. E ainda, de ser o extremo mais temido do mundo, a passar ao “ponta de lança” mais eficaz de todos os campeonatos por onde passou. Marcou livres perto da grande área, longe da grande área, de todos os cantos, marcou do meio da rua, eu sei lá. Cristiano só não defendeu penaltis num jogo de futebol. E porque não o deixaram. Talvez o distanciamento de décadas, nos venha a revelar isso mesmo de Cris, que tudo isto foi feito por um só jogador. E repetidas vezes, repetidamente.

Mas sinceramente, com Messi e Cris, parece dar-se aquele tipo de caso como no exemplo seguinte: nós podemos falar dos Beatles e não pensar nos Stones. Mas ninguém consegue falar dos Stones, sem pensar imediatamente nos Beatles. E escusado será dizer quem é quem neste caso.

Quer Cristiano, quer Messi estiveram e estão no topo do mundo pelo menos desde 2004/2005/2006. Quer isso isto dizer, isso mesmo: há mais de 15 anos. E estrelas cintilantes como Pelé, Garrincha, Eusébio, Beckenbauer ou Cruijff, estiveram quanto? Dir-me-ão alguns: “Mas olha lá, o Pelé ganhou a primeira em 1958 e a última em 1970.” Sem dúvida! Mas com longas épocas de intermitência, arrasadas por lesões. É provável que o joelho de Pelé tenha chegado aos 60 anos, quando ele ainda tinha 30. Messi e Cris estiveram a este nível, não pelos 4 ou 5 anos dos Ronaldos brasileiros ou Zizou. Vou repetir pelo sim, pelo não – 15 anos.

Para quem foi apanhado de surpresa, só mesmo um louco como eu para quase ao fim de 700 palavras e ainda não ter invocado Maradona. Como ateu praticante, devo confessar que só deus sabe, o que Maradona significa para mim. Nem o coloco nesta categoria de mortais. E que certo que eu estava, até ver Maradona, de que a cigarra nunca vencera a formiga. Pensava, como tantos outros, que os homens carregados de sabedoria fazem muito pouco barulho. Messi e Maradona têm/tinham esse brilho num jogo – livrarem-nos dos excessos da vida, secando a “gordura” do mundo, como loucos à procura de ficar sozinhos num campo. Messi, necessariamente, mais de equipa do que El Pibe. Quando os vemos jogar, o erro é nosso se um estádio inteiro não nasce dentro de nós.

Detesto provocações, mas queria só dizer que o Brasil pode até ser Penta. Pode até ser de facto o país do futebol, mas feliz do país que pode “esfregar um Messi e um Maradona na cara do mundo”. Há a famosa tirada: sabe como é que um argentino se suicida? Sobe em cima do seu ego e se joga lá de cima!

Não sei bem quem utilizou a expressão, pela primeira vez de que: “Deus é brasileiro”, mas sei que foi Chico que escreveu: “Deus é um cara gozador, adora brincadeira. Para me botar no mundo…”. Na realidade, já todos percebemos que Deus também faz das suas. Que atrevimento este, de dar aos argentinos um jogador genial, baixinho, esquerdino, mas querendo para si todos os pecados do mundo. Coroando em pleno mês de junho de 1986. Como não ficou satisfeito, com tamanha judiação, precisamente um ano depois pensou:

– Mas porque é que eu não dou agora aos argentinos a versão não pecaminosa desse mesmo génio?

Acham que estou a exagerar? Mas que diabo, daqui a nada ainda me vão dizer que o Messi nasceu em junho de 1987. Só para me acalmar, um pouco, queria só concluir que enquanto o futebol brasileiro e português “continuam abutres” de si mesmos, os Argentinos parecem empoleirados na alma futebolística dos dois génios esquerdinos. Não admira por isso que haja tão poucos suicídios na Argentina. E a culpa é deles, desses dois pequenos gigantes de 1,70m que fizeram uma nação inteira acreditar. Já dizia Nelson Rodrigues: “quem ganha e perde as partidas é a alma”.

Tiago Pereira da Silva

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