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“O Casarão” conhece edição física em DVD

Escrito por em 17/12/2022

Um velho casarão apodrece no coração de uma aldeia rasgada ao meio por uma estrada onde os carros já não param. O realizador Filipe Araújo quis desvendar os mistérios por detrás do antigo epicentro da terra – o mais progressista seminário católico português durante a ditadura, que, quase meio século depois, aspira a uma segunda vida.

“O Casarão” foi o filme que nasceu desta sua pulsão e que chega agora em versão DVD numa edição especial que inclui cenas cortadas, uma entrevista com o autor e testemunhos inéditos do romancista João de Melo (autor de “Gente Feliz com Lágrimas”) e do pensador e teólogo dominicano, Frei Bento Domingues, ambos ex-seminaristas daquela instituição, avançou a produtora em comunicado de imprensa.

O filme, que está já disponível para compra na loja do site da Zero em Comportamento, e no início do ano chegará às FNACs e outras lojas especializadas espalhadas por todo o país, desvenda o papel que o antigo seminário dominicano de Aldeia Nova teve nas vidas dos muitos rapazes que passaram pelas suas salas e corredores, e o destino que agora poderá ter.

No curso das ditaduras do século XX e da ressaca das Grandes Guerras, o acesso ao conhecimento sistematizado para os estratos baixos da sociedade e nos contextos rurais, onde se encontrava o grosso da população, era praticamente nulo.

Havia, contudo, duas exceções: a oferecida pela profissionalização militar e a via religiosa — encaradas como um dos raros passaportes para uma vida melhor. Foi esse o caminho percorrido pelo pai de Filipe Araújo, professor universitário e investigador científico. Nascido no seio de uma aldeia minhota, foi o único dos cinco irmãos a seguir os estudos. Conta que o fez aliciado pelo prior da terra, que lhe acenou com as mais excitantes disciplinas do saber, apresentando-lhe a vocação religiosa como um “dom para melhorar o mundo”. Tinha 10 anos quando ingressou no seminário de Aldeia Nova.

“A premissa deste projeto nasce da vontade de colocar em diálogo dois Portugais separados por um intervalo de meio século e ligados através de um mesmo edifício. É, portanto, um filme sobre finais de ciclo, mas também sobre um paradoxo. No caso, o paradoxo que é, em plena ditadura salazarista e num lugar carregado de isolamento, a “descoberta da liberdade” por parte de um grupo de pré-adolescentes a preparar-se para algo que nunca viria a ser”, explica Filipe Araújo.

Para o realizador, este documentário constituiu uma oportunidade de levantar o véu não apenas sobre um imóvel com história caído no esquecimento, como também sobre a improvável experiência feliz de mais de uma centena de vidas construídas entre dois mundos: o secular e o religioso.

Com esse propósito, O Casarão convida-nos a acompanhar a passagem de testemunho do antigo seminário através de António, caseiro do edifício desde o tempo dos padres, recuperando paralelamente as memórias dos seminaristas por intermédio de cartas, diários e textos dispersos entretanto reunidos.

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