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CÂMARA ESCURA

Escrito por em 10/09/2022

CÂMARA ESCURA

[a very yellow white flash]

Acordei num final da tarde,
quando o sol se punha
e já não sabia em que dia estava.

Não.

Lembrava-me apenas da existência de um pós-guerra qualquer,
aquele em que todos os coniventes haviam sido perdoados
e os resistentes condenados.

“Who in your very, very month of May?”

[e a Taro e o Capa em fita]

Miro.

[o meu filho, o meu tio e a minha avó]

A mira é feita de uma luz incandescente de pixel,
anónima e isenta de qualquer ética, narrativa ou poesia,
comprometida somente em chegar ao poder
e encurralar a diferença.

Pela moral, pela ignorância e pelo dinheiro.

Não.

Pela fome.

Dirt, filth?

[grunge]

Na ilusão de viajarmos depressa demais entre os séculos,
servimos de script aos sonhos, medos e intelectos,
reduzidos a dados biométricos,

apontados a nós na fronteira.

A Norte, Sul, Este e Oeste.

[nada de novo]

Nouvelle Vague:

“There is only one way to be an intellectual revolutionary, and that is to give up being an intellectual.”

Não.

A noite resgata ainda os últimos raios de sol para que se possa encontrar na escuridão.

Enquanto uma alma paira entre as fronteiras.

Sozinha.

Uma criança
interrompe-me o silêncio,
como ainda fazem os anjos.

Em Espanha.

Desinfeta as suas mãos
e estende-me uma maçã bíblica,
sob a forma de storytelling.

Coloca a máscara,
e pergunta:

“Is this the kind of kiss you were waiting for?”

Entrego-lhe o meu coração.

Pequeno o suficiente para se libertar das amarras da palavra.

Pequeno o suficiente para fugir ao olho de Mordor.

Pequeno.

Riders on the storm:

“in this world we are all thrown”

“there is a killer on the road”

“you gotta love your man”

Não.

O sol não nasceu para todos.

Ainda.

Vai escolher outro dia.

Filipa, 15.9.2022

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