Letrux: o verdadeiro climão viveu-se no FMM Sines
Escrito por Daniela Azevedo em 31/07/2022
Letrux ou Letícia Novaes inaugurou os concertos noturnos no Castelo de Sines a 27 de julho – o dia do meio de uma semana que se encheu de energia positiva e vibrante para todos os que aplaudiram a cantora que, sem sombra de dúvida, estará a viver o auge da sua carreira (e da sua vida pessoal?).
Letrux e a sua banda (numa versão mais rica da que nos apresentou no festival MIL – Lisbon International Music Network de 2019) trouxe ao Festival Músicas do Mundo o seu segundo álbum, “Letrux aos Prantos”, lançado em 2020, tendo sido com grande emoção que o interpretou ao vivo num Portugal que tanto a apaixona e onde parece estar viciada nos sufixos “inhos”. Aliás, o FMM tem um lugar realmente especial no coração da excêntrica artista na medida em que ouviu falar do festival pela primeira vez, precisamente em 2013, durante umas “férias muito loucas, muito ousadas, vocês nem imaginam o quanto…” que fez em Porto Côvo.
Devota a Deus e à Ciência, Letícia Novaes diz estar grata por ter sido vacinada e sobrevivido à Covid-19, mas admite que a pandemia lhe trocou as voltas todas de promoção a um disco que parece ter continuado a conquistar os fãs portugueses. Aqueles que cantaram de fio a pavio temas do álbum anterior, “Letrux Em Noite De Climão”, como ‘Que Estrago’, com uns bons headbangings pelo meio, e ‘Ninguém Perguntou Por Você’, ambos acompanhados pela eclética e mágica mistura de guitarra, sintetizadores e os tão brasileiros atabaque e cuíca.
“Dorme com essa, Dorme com ela, Dorme comigo. Pinta o cabelo, vai pra Lisboa, some da minha vista” é a letra de uma das canções do mais recente álbum e uma das que põe a também compositora e instrumentista num dos mais sensuais apelos físicos de toda a atuação – toda ela é brilho e cor. Vermelho, de preferência. Ao ouvi-la ficamos com a sensação de que, de facto, muitas das suas composições terão nascido depois de viagens e experiências que nos entrega de uma forma atrevida, divertida, mas, ao mesmo tempo, muito intimista (há ali muita cama borrada de maquilhagem).
Estando no FMM, um festival que se caracteriza por uma forte componente política associada às atuações, esse apelo por parte de Letícia também não podia faltar. Tanto assim é que mal entra em palco, da sua orelha direita pende um brinco gigante onde se lê “LULA” e, na reta final do espetáculo, reforça a mensagem do quanto está do lado do popular candidato do Partido dos Trabalhadores, que apoiou a cultura a que tanto os brasileiros recorreram no período mais severo do confinamento pandémico.
Foi um concerto enérgico e muito divertido que só pecou por ter durado pouco tempo (menos de uma hora) e não ter ficado guardado para os momentos mais altos de cada noite reservados aos cabeças-de-cartaz.
Fotografia de capa por Mário Pires/FMM Sines.