Boom Festival reúne 21 palcos e 40 mil pessoas
Escrito por TunetRádio em 22/07/2022
O Boom Festival, que tem início hoje, em Idanha-a-Nova, conta com 21 palcos oficiais, 544 artistas, 181 facilitadores, 69 assistentes e 100 terapeutas, para um público de 41 mil pessoas de 177 nacionalidades, segundo a organização.
O extenso cartaz anunciado, a cumprir até ao próximo dia 29, inclui atuações de artistas como Agents of Time, Astrix, Acid Arab, Angélica Salvi, Burnt Friedman com João Pais Filipe, Club Makumba, Fogo Fogo, Kimi Djabaté, Norberto Lobo e Pantha du Prince, embora “o Yoga, as práticas de bem-estar, a arte, os ‘workshops’ e a meditação” estejam também entre as preferências de um público, que procura “aproveitar o momento”, e que este ano esgotou os bilhetes disponíveis em hora e meia, assim que foram postos à venda, como explicou à agência Lusa Artur Mendes, da organização.
A 13.ª edição deste festival bienal que se realiza em Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, foi cancelada em 2020 e 2021, devido à pandemia da covid-19, e remarcada para julho de 2022.
“Vamos receber cerca de 41 mil pessoas nesta edição. Como sempre, a procura foi imensa, ultrapassou em muito a oferta. Os bilhetes esgotaram-se em hora e meia. O facto de a pandemia ter adiado a edição do ano passado não reduziu em nada o entusiasmo dos ‘boomers’”, disse à Lusa Artur Mendes, em junho, numa entrevista sobre o festival.
Em 2009, ano em que o Boom Festival se instalou na Herdade da Granja, a organização transferiu também a sua sede para o concelho de Idanha-a-Nova, criando, desde então, a associação IdanhaCulta, que se dedica ao desenvolvimento social, cultural, recreativo e ambiental. A organização acabou por adquirir esta herdade de 180 hectares em 2017.
“Podíamos receber mais e mais pessoas, mas seria exatamente o contrário do que pretendemos, ou seja, nós queremos melhorar a experiência, queremos assegurar que existe equilíbrio. Podíamos fazer o Boom todos os anos, mas fazemos apenas de dois em dois e isso também é um investimento na sustentabilidade. Saber parar, saber não crescer em excesso é uma responsabilidade que assumimos por inteiro. É o nosso compromisso”, sustentou.
Artur Mendes sublinhou que o Boom Festival é o acontecimento cultural com mais diversidade do ponto de vista das nacionalidades: 85% do público é estrangeiro. Nesta edição, vão estar representadas 177 nacionalidades, com destaque para franceses, alemães e israelitas.
“Os neerlandeses, suíços, suecos e espanhóis também marcam presença em grande número. Temos um visitante norte-coreano e três polinésios. É importante notar que não é o contingente específico de um país que define o Festival, nem é isso que nos interessa. O importante é a diversidade de pessoas de todo o mundo que vivem a experiência do Boom e que a repetem edição após edição”, defendeu.
“Muitos visitam-nos por causa do Yoga, das práticas de bem-estar, da arte, dos ‘workshops’, da meditação, mas outros ‘boomers’ vêm simplesmente aqui para aproveitar o momento. O Boom também é feito de pequenos cantos, jardins detalhados, arquitetura temporária, projetos ecológicos e uma vibração humana muito específica. A ideia de comunhão é o que nos move. A experiência Boom é sobre ser Boom, não apenas assistir”, frisou Artur Mendes.
Para este ano, o Boom Festival, anunciou também uma exposição internacional de obras de arte digital ‘non fungible token’ (NFT), com curadoria do Art Progression Now, reunindo peças de 25 artistas de 13 nacionalidades, relacionadas com o tema adotado pelo festival este ano, “Antropoceno”.
A coleção estará igualmente disponível na galeria virtual do ‘Rare Effects’, para que ‘boomers’ de todo o mundo possam visitar e comprar as obras de arte expostas, ‘online’, até dia 15 de agosto.
O responsável pela organização realçou que estão o ano inteiro na herdade, onde tem uma equipa permanente e o trabalho é diário. “Deixe-me dar-lhe alguns exemplos do que fazemos: construímos uma estação de tratamento de água com capacidade para sete milhões de litros para tratar a água cinza dos chuveiros do festival e reutilizá-la para irrigação, para apoiar a regeneração e reflorestamento de Boomland. Construímos 112 novos chuveiros a partir de plástico reciclado e 94 novas casas de banho, algumas feitas com plástico reciclado e outras com materiais reciclados a partir de interiores de automóveis”, sublinhou.
A organização do Boom Festival vai continuar a limitar os horários de banho, como forma de ajudar a preservar a água, e tem disponíveis WC 100% compostáveis. Após tratamento e análise, o composto é devolvido à terra para criação de solo na parte florestal.
“Estamos todos os dias na herdade, trabalhamos todos os dias, cuidamos do terreno. As árvores e a vegetação são tratadas e respeitadas. Desde 2015, o programa de reflorestação do Boom plantou 925 árvores e 120 unidades arbustivas”, afirmou.
O transporte dos ‘boomers’ é outro aspeto ao qual a organização está particularmente atenta. Na última edição, em 2018, cerca de 30% do público deslocou-se através do ‘Boom Bus’, iniciativa criada pelo evento em 2006.
Para usufruir deste serviço, basta reservar o bilhete e apanhar o ‘Boom Bus’ numa das paragens organizadas em Portugal, mas também em Espanha, França ou na Suíça, e é mais uma forma de promover e concretizar a sustentabilidade, neste caso através da mobilidade partilhada.
“O esforço para reduzir emissões, contudo, não se esgota aí. Promovemos, em colaboração com a Liftshare, a cedência de lugares vagos em veículos de ‘boomers’ que se deslocam com espaço disponível para partilha”, explicou Artur Mendes.
Este ano, e pela terceira edição consecutiva, o festival vai ter também o ‘Boom Bike Village’, que recebe os ‘boomers’ que viajam de bicicleta. À agência Lusa, Artur Mendes explicou que o facto de estar no interior do país é um fator que valoriza, distingue e define o Boom Festival.
“Estamos muito contentes com esta escolha. Não somos nem mais um festival de música, porque somos muito mais do que isso. Não propomos apenas concertos, nem estamos onde a maior parte das pessoas está o ano inteiro, ou seja, nas grandes cidades. Claro, tudo é mais fácil em Lisboa ou no Porto, porque existe massa crítica, os sistemas estão montados, as infraestruturas públicas estão garantidas, mesmo um grande concerto com 60 mil ou 70 mil pessoas é encarado com, digamos, alguma normalidade pelas autoridades”, frisou. Os contactos entre a organização e a Direção-Geral da Saúde (DGS) são regulares e intensificam-se durante o festival.
Boom Festival instala quartel de bombeiros no interior da herdade
O Boom Festival, que tem início hoje, em Idanha-a-Nova, tem instalado no recinto um quartel de bombeiros, 15 bocas-de-incêndio, 900 extintores e algumas centenas de observadores focados em detetar qualquer anomalia que surja.
Com a onda de calor que Portugal atravessou e que provocou uma vaga de incêndios rurais em várias zonas do país, a organização do Boom Festival não deixou nada ao acaso e tem, inclusivamente, um plano de emergência e prevenção no âmbito dos incêndios rurais.
“O grau de exigência e cuidado é real. Temos feito simulacros [foram realizados três simulacros envolvendo todas as autoridades]. As equipas estão todas particularmente atentas a este tema. Repare, o calor, ou melhor, temperaturas de 35 graus podem ser raras em Lisboa, mas são a regra no interior do país. Foi assim nas edições anteriores. Avisos para a temperatura elevada são, portanto, habituais”, explicou à agência Lusa Artur Mendes, da organização.
Este responsável sublinhou que as previsões meteorológicas continuam, ainda assim, abaixo do que aconteceu há uma semana, mas entende que nada pode ser facilitado. “A nossa planificação reflete esse sentido de exigência. Muitos do que fizemos seria impossível fazer se a nossa passagem pela herdade acontecesse apenas durante a semana do festival. Como estamos aqui o ano inteiro, esse trabalho contínuo torna-se fazível e ganha consistência”, salientou.
A 13.ª edição deste festival bienal que se realiza em Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, foi cancelada em 2020 e 2021, devido à pandemia da covid-19, paragem que deixou algumas consequências que a organização não esconde.
“O facto de não ter havido Boom teve naturalmente consequências financeiras, mas mantivemos a equipa, cerca de 30 pessoas, compreendemos que era fundamental resistir ao lado de Idanha. Honrámos os compromissos com cada pessoa da equipa até ao fim de cada contrato de trabalho. Isso significou que a nossa organização apoiou até mesmo ‘freelancers’, muitos dos quais não podiam contar com o apoio do governo”, disse.
Adiantou ainda que as medidas de proteção da cultura em Portugal “são quase inexistentes e ficam aquém da resolução de questões fundamentais”. “Falta-me apenas dizer que não foi apenas o Boom que sofreu este impacto monumental, foi todo o setor da cultura. A única diferença é que nós trabalhamos no interior, uma região maravilhosa, mas onde tudo é mais difícil. Digamos que tudo o que fica longe de Lisboa sofre as consequências”, sustentou.
Contudo, deixou bem claro que apesar de todas as dificuldades, a equipa do Boom está em Idanha-a-Nova, o ano inteiro, em permanência. “Cuidamos da herdade, tratamos da vegetação, dos caminhos…. Posso dizer que o ordenamento do território que tanto queremos para o nosso país acontece nestes 180 hectares [herdade]. As espécies autóctones, a limpeza do terreno, quando necessária, tudo isso acontece e aconteceu, mesmo durante a pandemia [covid-19]”, frisou.
O Boom, tal como nas anteriores edições, não foge à regra e 85% do público que vem é estrangeiro o que transforma este festival no acontecimento cultural realizado no país, com mais diversidade do ponto de vista das nacionalidades (177).
“É importante notar que não é o contingente específico de um país que define o Festival, nem é isso que nos interessa. O importante é a diversidade de pessoas de todo o mundo que vivem a experiência do Boom e que a repetem edição após edição”, realçou.
Apesar de oficialmente começar hoje, o Boom Festival abriu as portas na quinta-feira, às 6:00, mas desde o dia anterior estavam cerca de quatro mil pessoas no ‘pré-parque’, sendo que entre quinta-feira e hoje chegam mais 30, 35 mil.
Artur Mendes explicou à Lusa que as autoridades sabem disso e conhecem ao detalhe os planos da organização. “Conhecem-nos há meses. Repare, há pessoas que viajaram da Ásia, por exemplo do Japão, da Tailândia, outros vieram da África do Sul. Quanto às autoridades, penso, aliás, tenho a certeza de que reconhecem competência ao nosso trabalho. Terá de lhes perguntar o que pensam, mas, sem quebrar nenhuma confidencialidade, digamos que o nosso esforço e estratégia têm sido reconhecidos”, salientou.
Aliás, este responsável diz mesmo que o presidente e a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova sabem a importância que o Boom tem para a região. E, adianta que, nesse sentido, ao longo dos anos, o autarca tem procurado juntar todas as autoridades e o Boom, de modo a preparar e coordenar todos os esforços, lado a lado, em absoluta cooperação.
“Penso até que este ano existirá uma espécie de centro coordenador da operação instalado na câmara [Idanha-a-Nova]. Todos queremos proteger as pessoas, proteger o ambiente, garantir que os visitantes se divertem e nos voltem a visitar”, concluiu.
Quanto à herdade e aos seus 180 hectares, tem sido alvo de vários melhoramentos e a equipa que ali está em permanência durante todo o ano, já construiu uma estação de tratamento (com capacidade para sete milhões de litros) para tratar a água cinza dos chuveiros do festival e reutilizá-la para irrigação, para apoiar a regeneração e reflorestamento da Boomland.
Foram ainda construídos 112 novos chuveiros a partir de plástico reciclado e 94 novas casas de banho, algumas feitas com plástico reciclado e outras com materiais reciclados a partir de interiores de automóveis.
Este ano, os horários de banho continuam a ser limitados, para ajudar a preservar a água e estão disponíveis WC 100 por cento compostáveis. Após tratamento e análise, este composto é devolvido à terra para criação de solo na parte florestal.
Desde 2015, o programa de reflorestação do Boom plantou 925 árvores e 120 unidades arbustivas. “Somos um festival que desde 2008 recebe os prémios mais importantes de eventos sustentáveis. Através do festival conseguimos recursos que ‘renaturalizam’ a herdade e, com isso, geramos impactos positivos. A água é tratada e reintroduzida para reflorestação, existe energia solar, utilizamos animais para gestão de combustíveis, reflorestamos com espécies nativas ou adaptadas ao ecossistema e parte das receitas é revertida para projetos locais e levamos cultura ao interior, atraindo públicos e fixando populações”, referiu Artur Mendes.
Por último, este responsável salientou que a organização do Boom Festival tem estado em contacto com as autoridades, designadamente Proteção Civil, GNR e, claro, com a equipa da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.
“Fizemos várias reuniões com todas estas entidades. Demos toda a informação, mostrámos todos os planos de contingência, aliás, reforçámos os cuidados e alterámos alguns planos. Somos naturalmente cuidadosos e exigentes, a preocupação ambiental não é um adorno para o Boom, faz parte de quem somos”, concluiu.
Já o presidente da câmara de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, explicou que o Boom Festival “é uma das principais referências de Idanha como Cidade Criativa da UNESCO, na área da Música, que entende que as indústrias criativas podem ser agentes de desenvolvimento económico e social”.
“O Boom Festival tem um impacto económico total de 55,3 milhões de euros em Portugal, segundo um estudo realizado em 2020. A organização esforça-se para que o impacto social e económico aconteça o mais possível neste concelho e região, nomeadamente ao nível dos postos de trabalho gerados pelo Boom, da escolha dos fornecedores e produtos utilizados no festival”, disse.
O autarca considerou mesmo este evento bianual, “uma peça fundamental para o sucesso do modelo de desenvolvimento sustentável de Idanha”, não só por todo o valor económico e notoriedade que cria na região, diretamente e indiretamente, mas também por servir de referência para outros projetos que apostam em práticas de sustentabilidade.
“O Boom Festival está perfeitamente alinhado com os valores que Idanha preconiza para o concelho enquanto primeira biorregião de Portugal. É para Idanha um grande orgulho acolher o Boom Festival”, concluiu.