Bela Vista volta a ser a Cidade do Rock
Escrito por Daniela Azevedo em 22/06/2022
Já muito foi escrito e dito sobre os benefícios e malefícios da pandemia e dos confinamentos que nos afastaram de todos e, de forma muito sentida, das atuações ao vivo. Posto isto, naturalmente que o regresso do Rock In Rio Lisboa foi um dos momentos de “festivalice” mais aguardados deste 2022.
Os Xutos e Pontapés, que estiveram presentes nas nove edições do RiR, não foram exceção este ano e lá abriram o Palco Mundo com a música ‘Fim-de-semana’ com muita gente ainda a chegar. Tim fez questão de subir ao palco com uma t-shirt a lembrar Zé Pedro. E efetivamente continua a sentir-se muito a falta da alma da banda.
Tim, João Cabeleira, Kalú e Gui trazem os temas bem conhecidos de todos, já parecem sair de cor, mas falta “aquela coisa” que nos punha a saltar e a entoar cada um dos temas a plenos pulmões como se fosse a novidade acabada de chegar às rádios.
Tim ainda vai trazendo algum humor depois do ‘Homem do Leme’ e antes de ‘Para Ti Maria’. Rock português dos anos 80 é sempre aposta segura, mas as guitarras chorarão para sempre uma ausência que é inevitável notar.
No lado oposto do Parque da Bela Vista, no novo Galp Music Valley, começa o concerto dos The Black Mamba, com um rock – soul – blues bem temperado e bem saboreado em final de tarde de sábado. “É o regresso da liberdade. Podemos estar todos juntos outra vez. Vamos exorcizar esse bicho que nos tem atormentado”, diz Tatanka, muito aplaudido, como se cada um dissesse “assino por baixo” dessas declarações, e ‘Love Is On My Side’ remata em beleza este concerto. Não sem antes o vocalista prometer para breve um novo disco do grupo.
Cerca das 19h00, o Palco Mundo recebe o polémico adepto do clube de futebol Manchester City: Liam Gallagher. O ex-vocalista dos Oasis trouxe um alinhamento composto tanto por músicas dos seus álbuns a solo, como por músicas dos Oasis e dos Beady Eye.
O sotaque nem sempre ajuda a percebermos as “tiradas” entre músicas, mas os palavrões e o “vão-se lixar” – na sua versão mais hard core, entenda-se – não faltaram. “Já se sabe como ele é”, dirão os fãs, enquanto os outros encolhem os ombros e vão ficando na expectativa de ouvir algo que lhes seja mais familiar. ‘Wonderwall’ só chega mais para o final. Nas filas de frente vêm-se muitos adeptos ingleses de futebol, facilmente identificáveis pelas camisolas.
De volta ao Galp Music Valley, temos um concerto dos Linda Martini e muita gente a ocupar as camas de rede. Do palco sai rock, mas à volta muita gente procura os costumeiros brindes, naquele que será um ano recorde em matéria de ativação de marcas no recinto. Há de tudo e em todas as cores e feitios.
Depois de Simone de Oliveira fazer um discurso pela paz, The National tomam posse do palco principal. A seleção musical, assente quase toda nas baladas da banda norte-americana, gerou um ambiente quase intimista, o que não deixa de ser intrigante com milhares de pessoas à volta.
Matt Berninger não se cansou de agradecer a Lisboa e ao Rock In Rio e acreditamos que o concerto estará, realmente, a ser especial. Afinal, a última digressão dos National terminou em Lisboa há quase três anos. Despediram-se com um “see you soon”, portanto, acreditemos, pois.
Coube aos Muse fecharem esta primeira noite de RiR, em substituição dos Foo Fighters. ‘Will of the People’ abre a noite, já a dar um cheirinho do que será o álbum novo, a ser lançado em agosto. É com ‘Hysteria’ que a malta começa a “acordar”, ajudada pelos riffs de guitarra e pelas explosões em palco que contrastavam com a chuva que começava a cair, mas a plateia não se demoveu e Matt aproveitou bem essa resiliência para interagir com os fãs.
Mesmo de máscara é impossível não ficar marcado pela voz inconfundível de Matt Bellamy. Quando tiram as máscaras, cantam “Hysteria”, que puxa da plateia o primeiro refrão cantado. Os vários riffs de guitarra, com ajuda da pirotecnia, levaram o público à euforia.
Com ‘Kill Or Be Killed’ regressaram para um encore, quando muitos já se encaminhavam para os portões, mas a música que fechou o Palco Mundo neste primeiro dia de Rock In Rio 2022 foi mesmo ‘Knight of Cydonia’, antes do espetáculo de fogo-de-artifício que caracteriza o fim da noite de Rock In Rio.
Fotografias gentilmente cedidas pela organização do Rock in Rio Lisboa.