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Retrospetiva de Agnès Varda na Temporada Portugal-França

Escrito por em 18/01/2022

Uma retrospetiva do trabalho de Agnès Varda, na área da cinematografia e das artes visuais, é um dos destaques da programação da temporada Portugal-França 2022, apresentada hoje publicamente e que envolveu um investimento global de 5,4 milhões de euros.

A apresentação da programação, que terá lugar entre fevereiro e outubro deste ano, decorreu hoje numa sessão em ‘streaming’ a partir do Palácio da Ajuda, em Lisboa, e da Torre Eiffel, em Paris.

Contando com um total de mais de 200 projetos e cerca de 480 eventos, a realizar em 84 cidades francesas e 55 cidades e vilas portuguesas, a programação abrange áreas como os oceanos, a igualdade de género e a juventude, exploradas através de espetáculos, exposições, concertos, conferências, gastronomia e festivais.

O orçamento para esta temporada estimou-se em 3,4 milhões de euros investidos por França e dois milhões de euros pela parte portuguesa, metade dos quais a cargo do Estado e a outra metade de privados, designadamente da Fundação Calouste Gulbenkian.

Um dos destaques desta programação, no âmbito das artes visuais, é a “Retrospetiva Agnès Varda”, que estará patente na Fundação de Serralves – Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, entre 1 de abril de 31 de outubro, apresentando uma mostra alargada do trabalho da artista, não só da sua obra cinematográfica, mas também a sua produção nas artes visuais (fotografia, colagem, videoarte e instalação).

“Viver a sua vida, Georges Dambier e a Moda”, que estará entre 03 de maio e 30 de outubro no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, é outra das iniciativas em destaque nesta programação.

Considerando a moda e a fotografia como meio privilegiado de reflexão sobre o tempo e a memória, a exposição apresenta uma seleção de quarenta fotografias que revelam a visão singular do fotógrafo Georges Dambier no contexto da alta costura parisiense dos anos 1950, período conhecido como a “Idade de Ouro”.

As Galerias Municipais de Lisboa – Torreão Nascente da Cordoaria Nacional vão expor o trabalho “Sarah Maldoror: Cinema Tricontinental”, de 08 de setembro a 13 de novembro, a primeira exposição retrospetiva dedicada à obra cinematográfica, teatral, poética e política desta artista, que morreu no ano passado.

Na área do património, o Mosteiro da Batalha e o agrupamento de escolas da Batalha organizam “Arras e Batalha – Um património da humanidade, uma memória comum”, patente de março a dezembro.

Este projeto cruzado apresenta três exposições: “Arras na Grande Guerra e a presença das tropas portuguesas em Artois”; “Louis Lantoine e a sua obra para a memória dos portugueses na Grande Guerra em Artois” e “O Mosteiro da Batalha, o Cristo das Trincheiras e a memória do envolvimento de Portugal na Grande Guerra”.

O Mosteiro de Alcobaça terá patente, entre abril e agosto, a exposição “Entre Claraval e Alcobaça: Os Ciestercienses e a Inovação na Arquitetura Religiosa Europeias dos Séculos XII e XIII”.

Esta mostra pretende evidenciar a relação histórica existente entre Alcobaça e a sua casa-mãe, a Abadia de Claraval (França), em particular ao nível da Arquitetura, com a importação de um modelo tipológico para Portugal, igualmente disseminado por toda a Europa cisterciense.

No campo das artes performativas, a temporada conta com uma “enorme programação”, de acordo com a comissária portuguesa, Manuela Júdice, que destacou iniciativas previstas essencialmente para o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) e Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e o Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto.

O TNDM apresenta “Saigão”, de Caroline Guiela NGuyen, entre 22 e 24 de abril, e “Ça Ira (1) Fin de Louis”, de Joel Pommerat, de 28 a 30 de outubro, ao passo que o São Luiz levará à cena “Fraternité, Conte Fantastique”, de Caroline Guiela Nguyen, de 26 a 27 de abril.

Quanto ao TNSJ, terá em palco, nos dias 29 e 30 de abril, o espetáculo “Os irmãos Karamázov”, de Sylvain Creuzevault, baseado no romance do russo Dostoievski, das páginas do qual a encenadora retira elementos de uma leitura inspirada em Heiner Müller e Jean Genet, segundo os quais esta obra é acima de tudo “uma farsa, uma bufaria enorme e mesquinha”.

O mesmo teatro apresenta ainda a peça “Ils nous ont oubliés”, de Séverine Chavrier, uma proposta de regresso à obra “La Plâtrière”, do escritor austríaco Thomas Bernhard, em cena nos dias 08 e 09 de julho, e “Oresteia”, de Ésquilo, com encenação de Nuno Cardoso e Catherine Marnas (do Théâtre National de Bordeaux en Aquitaine), uma coprodução bilingue, que estará em cena de 20 de outubro a 06 de novembro.

A abertura oficial da Temporada Cruzada Portugal-França 2022 terá lugar no dia 12 de fevereiro, com um concerto intitulado “La Mer”, na Filarmónica de Paris, a cargo da pianista Maria João Pires, acompanhada pela Orquestra Gulbenkian.

Segundo Manuela Júdice, a abertura da temporada terá ainda “dois momentos” importantes: a exposição “Gérard Fromanger. O Esplendor” no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, com curadoria de Éric Corne, e que será inaugurada no dia 16 de fevereiro, ficando aberta ao público até 29 de maio; e a apresentação de Phia Ménard no Teatro Rivoli e no Campo Alegre, no Porto, de 18 a 26 de fevereiro, com uma alargada programação que cruza dança, artes visuais, teatro e circo contemporâneo.

Durante a apresentação da programação, a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, destacou que esta programação, desenhada em contexto pandémico, pretende aproximar reciprocamente os dois países e reforçar os laços de cooperação, lembrando que Portugal e França trabalharam de “forma muito próxima com o objetivo de centrar e reforçar o papel que a cultura tem para o desenvolvimento da economia e da sociedade”.

“Hoje, mais do que antes, a cultura, particularmente atingida pelo contexto pandémico, tende a ocupar o papel principal no quadro de relançamento das nossas economias. A Europa vive um momento de retoma decisiva para o futuro coletivo, sustentado pelo maior pacote de apoio financeiro para o setor cultural e criativo jamais aprovado no quadro europeu”, sublinhou.

No que respeita à programação, Graça Fonseca deu ênfase ao concerto de Maria João Pires com a Orquestra Gulbenkian e à exposição “Tudo o que eu quero – Artistas portuguesas 1900-2020”.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou, por seu lado, os laços já existentes entre Portugal e França, nomeadamente nas áreas da defesa dos oceanos, da ação climática ou da relação entre Portugal e África, destacando sobretudo os laços “económicos, culturais e populacionais”.

“A França é o segundo cliente e o terceiro fornecedor de bens para Portugal. Há mais de um milhão de portugueses e lusodescendentes que vivem em França, a França é um dos países do mundo em que mais se fala a língua portuguesa e mais se ensina e estuda a língua portuguesa”, afirmou.

Para o ministro, esta organização conjunta da Temporada Cruzada é a “melhor forma que há” de, através da cultura e da criação, desenvolver os laços já existentes e “reforçar esta proximidade cada vez maior” entre os dois países.