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“Turismo” de Tiago Correia regressa de 8 a 10 de outubro

Escrito por em 30/09/2021

“Turismo”, uma criação de Tiago Correia para a companhia A Turma, que aborda o fenómeno turístico e as consequências num povo e sua cidade, regressa a cena no Porto, no dia 8 de outubro, pondo fim ao confinamento da pandemia.

Estreada no início de 2020, no auditório Campo Alegre do Teatro Municipal do Porto, pouco antes da declaração da pandemia da covid-19, a peça “Turismo” é reposta em cena, na cidade do Porto, mas agora no palco do Teatro Helena Sá e Costa, entre os dias 8 e 10 de outubro. Sempre às 21:00 e, no domingo, dia 10, às 17:00.

Em entrevista à agência Lusa, o dramaturgo Tiago Correia explica que sentiu “necessidade” de voltar a repor a peça, não só porque em 2020 teve uma “existência muito curta”, com uma ”grande adesão de público”, mas também porque apesar da pandemia, a verdade é que, sobre a temática do turismo, “pouco mudou” e o assunto mantém-se “atual” e “pertinente”. Para Tiago Correia, repor a peça é “uma prova da vitalidade” da obra.

“Voltar a fazer este espetáculo agora serve também para dizer que está vivo. É uma prova da vitalidade” da peça. O dramaturgo refere que a equipa sentiu, nas apresentações, no Porto, que havia uma necessidade de se abordar a temática da “turistificação” e “gentrificação”.

“Na forma como o público aderiu à peça, na forma como o público reagiu à peça e na forma como o espetáculo criou um debate e dividiu posicionamentos dos espectadores relativamente às personagens e a quem tinha razão. Isso foi muito interessante, porque era exatamente esse o objetivo do espetáculo”, explica à Lusa.

A reposição da peça resulta da necessidade de regressar à temática turística e às metamorfoses que provoca nas cidades, mas serve também para sublinhar que nem com a pandemia a situação mudou, e a “especulação imobiliária continua”.

“Os preços não diminuíram, os despejos só temporariamente é que foram impedidos, a especulação imobiliária continua, o mercado imobiliário está só numa espécie de suspensão, à espera que tudo volte a ser como era. Sentimos que ainda é uma questão pertinente”, disse o dramaturgo à Lusa.

Para Tiago Correia voltar a levar a palco “Turismo” é também uma nova oportunidade para refletir sobre as questões de identidade das cidades “obcecadas pelo fenómeno turístico e sobre os seus efeitos colaterais na vida dos seus habitantes”.

“Uma temática complexa, que a crise pandémica não veio mitigar. Sem julgamentos, sem bons ou maus”, prossegue o também encenador, director artístico do projecto A Turma, professor de interpretação e músico.

Tiago Correia contou que durante a fase de pesquisa e criação da peça, havia um lado seu que achava que “Turismo” podia acabar com a pandemia, ou seja, que o “próprio espetáculo podia acabar assim com uma pandemia”, encontrar o seu final numa pandemia.

Pensou, por exemplo, na “Morte em Veneza”, novela de Thomas Mann que também foi um filme de Luchino Visconti, em que “o comércio local e o poder local tentaram omitir” a existência de uma pandemia, na cidade italiana, aos turistas, para evitarem que o turismo desaparecesse.

“Era um outro possível final [para a obra] e, na altura, era ficção científica”, disse agora Tiago Correia à Lusa. Uma jovem de “vinte e poucos anos” (Inês Curado) que pretende ser atriz e arrenda uma casa no centro da cidade, na tentativa de cumprir o seu sonho de artista, um polícia (José Eduardo Silva) de quarenta e poucos anos, que vive com a mãe (Romi Soares), com mais de 70 anos, e que são os proprietários da casa onde a jovem reside, são as personagens centrais da trama.

Um jovem turista francês e fotógrafo (André Júlio Teixeira), na casa dos 30 anos, e uma outra mulher (Claudia Lázaro), com cerca de 40 anos, vítima dum despejo criminoso que viverá na rua, completam o núcleo das seis personagens da peça, cuja ação decorre ao longo de três dias e três noites, numa “cidade da Europa do sul”.

A folha de sala da peça “Turismo” tinha um texto de Regina Guimarães, que nunca chegou a ser distribuído. Escrito para ser integrado na folha de sala, continha uma nota de rodapé no qual a escritora criticava a noção de ‘cidade líquida’ de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador da Cultura do Porto, que morreu em 2015.

A escritora, que acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de censura – que por sua vez negou o propósito -, afirmava, nessa nota de rodapé, que o antigo vereador Paulo Cunha e Silva inundava os portuenses “de discursos delirantes acerca da ‘cidade líquida inspirada em Zygmunt Bauman’, no intuito de legitimar teoricamente as escolhas políticas na sua área de atuação, positivando, por ignorância ou descarada mentira, uma noção que, para o sociólogo inventor do conceito, consubstancia o horror contemporâneo da perda de laços. O erro, propositado ou involuntário de Paulo Cunha nunca foi publicamente denunciado pelos sociólogos da cidade e da sua academia”.

A peça, que se desenrola simultaneamente num plano cinematográfico, com realização ao vivo de Francisco Lobo, tem música original de Rui Lima e Sérgio Martins, cenografia de Ana Gormicho, luz de Rui Monteiro e Teresa Antunes, figurinos de Sara Miro e consultoria artística de Regina Guimarães. O preço dos ingressos é de 12 euros, sujeito a desconto para estudantes e seniores (50%) e desconto para artista (30%).