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Muita fome de cultura marca arranque do Guimarães Jazz

Escrito por em 13/11/2020

Com todo o respeito pelo vírus, mas também com uma enorme fome de cultura, 130 pessoas disseram hoje presente ao concerto inaugural do Guimarães Jazz, festival que este ano, por causa da pandemia, vai apresentar sons essencialmente nacionais.

“Numa altura em que há tão pouca oferta cultural, fico muito feliz por este festival se realizar, até porque este é, sem dúvida, um dos melhores festivais de jazz da Europa”, disse Canaveira do Vale, à Lusa.

“Ferrinho” do Guimarães Jazz desde a primeira edição, em 1992, e amante confesso de “boa música”, este professor de Guitarra Clássica no Conservatório daquela cidade garantiu que irá a todos os espetáculos do festival deste ano, independentemente de o cartaz não integrar nenhum dos chamados “monstros” mundiais.

“Por causa da pandemia, a aposta este ano recai essencialmente sobre músicos nacionais, mas hoje em dia também já temos cá músicos muito bons. Além disso, a fome de cultura é tanta que não poderia desperdiçar esta oportunidade de ouvir boa música”, referiu.

Paulo Leocádio também tem lugar marcado para o concerto inaugural, manifestando “todo o respeito pelo vírus”, mas igualmente “uma fome e uma sede enormes” de cultura. “A vida tem de continuar, e da mesma forma que precisamos de ir às compras para alimentar o corpo, também precisamos muito de cultura para alimentar a alma. E, pelo que li, parece-me que estão acauteladas todas as questões de segurança”, referiu.

Este ano, e pela primeira vez em 29 edições, o festival vai oferecer jazz “ao pequeno-almoço”, com concertos às 10:30, ao sábado e domingo, para respeitar o recolhimento obrigatório decretado pelo Governo.

“É uma edição verdadeiramente especial, eu diria mesmo que é uma edição dramaticamente especial”, referiu o programador do festival, à Lusa. Ivo Martins sublinhou que a pandemia obrigou o festival a reinventar-se, de forma a poder realizar-se “com toda a segurança” e a não quebrar o “forte compromisso” assumido com o público ao longo dos anos. A solução passou pela aposta sobretudo em músicos portugueses, mas também em músicos estrangeiros que residem em Portugal.

“Muitos projetos que integram o programa desta edição foram incentivados, ou quase mesmo ‘encomendados’, pelo festival”, referiu, para sublinhar que a pandemia acabou ser uma oportunidade para jovens músicos portugueses.

A 29.ª edição do Guimarães Jazz vai decorrer até 21 de novembro, com nove concertos e mais de uma centena de músicos. Por causa das restrições impostas no âmbito da pandemia de covid-19, a hora do início dos concertos foi antecipada para as 19:30 (quartas, quintas e sextas-feiras) e para as 10:30 (sábados e domingos).

Os espetáculos decorrerão no principal auditório do Centro Cultural Vila Flor, cuja lotação foi reduzida de 800 para 396 lugares. Mesmo assim, ficaram muitas cadeiras vazias, já que, segundo a organização, foram 130 os espectadores que responderam à chamada.

Os espectadores são obrigados a usar máscara, estando ainda a sala preparada para assegurar o devido distanciamento social. O concerto de hoje está a cargo de Andy Sheppard Costa Oeste, que inclui aquele saxofonista britânico e os portugueses Mário Delgado (guitarras), Hugo Carvalhais (contrabaixo) e Mário Costa (bateria).

Pelo palco do festival, vão ainda passar nomes como Peter Evans, César Cardoso, Julian Argüelles, Pedro Melo Alves, Sonoscopia, Porta-Jazz e Big Band da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), entre outros.

“Há nesta edição uma componente portuguesa fortíssima, a que se juntam músicos estrangeiros de inegável nível que vivem em Portugal”, vincou Ivo Martins. A única exceção será a Radiohead Jazz Symphony, um conjunto de seis músicos holandeses dirigidos por Reinout Douma, e que atuará em conjunto com a Orquestra de Guimarães.

Ivo Martins admitiu que, por causa da pandemia, faltam nesta edição algumas componentes que têm sido a marca do festival, como as ‘jam sessions’, os ‘workshops’ e as atividades de rua. “Tivemos de abdicar de tudo isto por razões de segurança, mas entre não fazer o festival ou fazê-lo com todas estas condicionantes, optámos por avançar”, referiu.