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MNSR abre portas para a “exuberância” da Casa-Museu Fernando de Castro

Escrito por em 25/09/2020

A Casa-Museu Fernando de Castro, tutelada pelo Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), abriu hoje as portas para, em visitas orientadas, mostrar aos portuenses a “exuberância” e o “caráter excêntrico” do caricaturista que em tempos a habitou.

“Os cidadãos do Porto não conhecem esta casa, passam aqui à porta e não conhecem este património tão raro e tão excêntrico”, afirmou à jornalista Sofia Cortez, da agência de notícias Lusa, Ana Anjos Mantua, diretora do MNSR, que, para assinalar as Jornadas Europeias do Património, vai realizar, durante o fim de semana, visitas orientadas ao espaço.

Sem qualquer referência exterior da “raridade” que se pode encontrar no interior da casa do caricaturista e poeta Fernando de Castro, que morreu em 1946, o intuito do MNSR é que o espaço passe a ser integrado nos roteiros turísticos da cidade.

Fernando de Castro, nascido em 1889, foi negociante, poeta, caricaturista e sobretudo colecionador. De seu pai, herdou uma firma comercial com escritórios na rua das Flores, no Porto. Mas, sem gosto pela atividade, ocupava grande parte do seu tempo no escritório a desenhar e a escrever.

Durante a sua vida, dedicou-se a colecionar peças, com que decorou a sua própria casa, com o objetivo de nela criar um museu. As divisões, que o MNSR manteve “tal e qual como deixadas pelo caricaturista”, exaltam o gosto eclético de Fernando de Castro através de pinturas, esculturas e peças de cerâmica, datadas desde o século XVI até ao século XIX.

Quase como se o poeta “tivesse horror ao vazio”, a casa-museu reflete a sua paixão pela talha que, em todas as divisões e pisos se ostenta nos tetos, paredes, esculturas e cerâmicas.
“Não conseguimos identificar o critério que usou para a disposição das peças, mas esse é o interesse da casa”, observou a conservadora do MNSR durante a visita.

Livros, tapetes (encomendados ao gosto do poeta), imperiosos espelhos e figuras ecléticas vão compondo densamente e cobrindo os espaços da casa que, tal como Fernando de Castro pretendia na época, é agora um museu.

Apesar de todos os objetos estarem inventariados, o MNSR não tem ainda um “historial completo” da origem e proveniência das várias peças. Até ao momento, apenas algumas dedicatórias de amigos e memórias do próprio têm ajudado a descobrir tais “raridades”.

Pelas diferentes divisões há também outros elementos de destaque, como a “cancela” na sala de jantar, mandada fazer pelo poeta, um púlpito no terceiro piso da casa e um vitral no teto.

“Aqui, é como se o poeta quisesse reconstruir um recanto da igreja de Santa Clara, no Porto”, explicou a guia enquanto se subia para o terceiro e último andar da casa-museu, apontando para uma parede, nas costas do vão das escadas.

A casa-museu guarda ainda, em duas alas diferentes, caricaturas e desenhos humorísticos de Fernando de Castro, e alguns dos seus livros publicados, em verso e em prosa.

Para quem visita o espaço, esta é “uma experiência única” com um misto de “assombro”, não só pela excentricidade decorativa, mas também pela escuridão que domina todas as suas alas, assegurou Ana Anjos Mântua.

“Este homem, que foi poeta, caricaturista e colecionador, não precisava de trabalhar. Tinha dinheiro e a sua profissão era ser rico. Podia dar-se ao luxo de fazer estas aquisições e decorar a casa desta forma”, salientou.

A Casa-Museu de Fernando de Castro, que depende administrativamente do Museu Nacional de Soares dos Reis desde a sua fundação, em 1952, começou hoje a receber as visitas orientadas que se estendem até domingo e que já “estão esgotadas”.

“As visitas esgotaram mal fizemos a divulgação, mas estamos sempre abertos à marcação de visitas”, assegurou a diretora do MNSR, que, também no âmbito das Jornadas Europeias do Património, vai promover este fim de semana visitas orientadas às reservas museológicas (pintura, escultura, têxtil e cerâmica), à oficina de restauro e à biblioteca do museu.