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Diogo Divagações sobre o EP “Filigrana”: «Não há grandes folias nas minhas músicas»

Escrito por em 04/01/2019

Diogo Divagações lançou, em formato digital, o EP “Filigrana”, que está a ser apresentado pelo single ‘Capricho’, disponível mais abaixo.

O jovem cantor começou a compor aos 14 anos e desde cedo integrou, também, a comunidade de hip-hop que existia não só na sua escola secundária, mas na sua cidade de origem (Santa Maria da Feira). Enquanto crescia como artista e como cidadão, Diogo Divagações lançou o primeiro trabalho a solo, “Porventura”, em 2009, e em 2013 seguiu-se “O Mundo. O Sonho. O Ser. O Mundo”, editado ao mesmo tempo em que frequentava o curso de Teatro e Educação na ESEC. O segundo trabalho é, predominantemente, de hip-hop mas a fazer um ligeiro “piscar de olho” à spoken word.

Em 2016 foi a vez do álbum “Ortónimo” e em 2018 reuniu-se de pormenor num “ato de confissão pessoal” ao retratar-se em “Filigrana”. Fomos conhecer as contradições de que se faz este músico e a sua obra.

Daniela Azevedo – O que encontramos em “Filigrana”?
Diogo Divagações – Em Filigrana começamos, sobretudo, por encontrar a nova intenção do artista. A nova exposição. A nova forma de olhar para as coisas. Uma certa frustração. Uma certa animosidade. Um certo conformismo disfarçado. Uma tal de indiferença em relação a tudo isto. Um tal de não saber em que caixas se encaixam as coisas: “E quão vago eu vou?”’. Contudo encontra-se também a atenção ao pormenor. A minúcia. A vontade de ser particular. Isso, e mais, é o “Filigrana”: três temas que têm algumas várias músicas desconstruídas que deram azo a essas construções.

DA – No teu álbum anterior, “Ortónimo”, exploravas as tuas diversas facetas artísticas adotadas até então. Como foi o caminho até chegares ao atual Diogo Divagações?
DD – O Diogo Divagação foi um upgrade/downgrade. Eu quando comecei isto tudo comecei a divagar. Sempre fui muito cabeça no ar e essa palavra sempre me acompanhou muito. Porém comecei como Dig – Diogo sem O’s, que mais tarde em inglês se revela “escavar”’ e acaba por fazer sentido – era mais rap, mais “gajo da street e dos improvisos”. Gradualmente as coisas mudaram e a escrita passou para algo mais sério e com atenção pela minha pessoa, assumi então o meu nome pessoal. Contudo, certo dia já eu pensando em mudar o meu nome de novo para algo que aí viria, surge a música do Sir Scratch com participação do Diogo Dias, e tive conhecidos a darem-me parabéns pela participação, o que me confundiu… Para evitar mais confusões e para desligar mesmo do que havia feito surgiu este assumir das Divagações.

DA – Há aqui alguma brincadeira com o António Variações?
DD – Não. Não sei. Não pensei nisso pelo menos quando assumi o nome. Não mesmo. Contudo, podemos aplicar as variações ao facto de que a cada vez que mudei de nome foi para cambiar um pouco a minha forma de fazer as coisas. Sendo sempre tudo muito semelhante houve sempre mudanças profundas quer na forma de produzir, quer na forma de olhar a música, quer mesmo na forma de tratar de todo o processo até à apresentação.

DA – Como é o teu processo de criação musical: dorido/sofrido ou alegre/libertador?
DD – Já foi um pouco de tudo. Já fui um esperantista irremediado. Já fui um sofredor com o coração em riste auto-crucificando-se para ser visto. Enfim. Acho que à medida que eu fui crescendo a minha música foi mudando, nunca saindo de um registo muito próximo, pessoal e intimista. Não há grandes folias nas minhas músicas. Eu até digo que faço música chata. Sou aborrecido enquanto criador porque sou chato e quero mesmo falar de coisas. Mas na minha vida quotidiana sou um alguém que está sempre a rir. Não sei… custa uma quantidade infinita de lágrimas este riso. Por isso não consigo pôr-me entre essas sugestões. O processo de criação é sempre algo que até posso idealizar mas deixo sempre muito o meu eu definir o que quer falar acerca.

DA – Quem são os teus ídolos/inspirações no universo hip-hop?
DD – Eu cada vez ouço menos hip-hop. Nunca ouvi muito na verdade, ainda assim. Mas os incontornáveis: Sam The Kid, Dealema, Mind da Gap, Boss AC (foi o meu primeiro disco de rap: Ritmo, Amor e Palavras). Sinto as novas vibes da “nova escola”, que são os exemplos do Cálculo, o Puro L. Os Wet Bed Gang porque de facto trazem uma energia do caraças prós temas e são criativos. Depois numa cena à parte estão Keso e Nerve que sendo muito distintos no estilo de fazer música são dois senhores muito completos.

DA – Que mensagem mais queres sublinhar nestas tuas novas músicas?
DD – Não sei. No “Filigrana” a intenção foi claramente separar o “Ortónimo” do que aí vem… e o que aí vem tem refrões, tem construções mais light, que não serão tão light assim… mas foi mais um desabafo antes deste disco que está pronto e há-de sair, chamado “O Bem. O Mal. A razão”. Este disco será a pausa técnica. Continuo a escrever coisas, aliás recomecei há pouco mais de um mês, mas a intenção clara de fazer uma pausa existe em mim. Quero estudar acima de tudo e sinto que já esgotei nesta forma que ando a trabalhar. Gosto muito da minha escrita e hei-de preservá-la. Não gosto assim tanto da forma como a tenho entregue e é nisso que ando a trabalhar: como é que eu sinto o que escrevo e como escrevo de forma a transmitir o que senti… Mas a minha música sempre teve a intenção clara de expor e falar de sentimentos, abordar questões do pensamento. Questionar a existência – eu disse que era um chato. [risos]

DA – Neste momento não estás a viver em Portugal. Como tem sido recebida a tua música além fronteiras?
DD – Curiosamente muito bem. Encontrei na segunda semana a que aqui cheguei um sueco e desde então temos estado juntos e andamos a trabalhar num ou noutro tema. No outro dia fui gravar com ele e é uma aventura porque, não entendendo a língua, restam os flows e a forma como soam as rimas… Tem sido muito engraçado. Depois surgiu o meio indiano meio inglês que é mesmo rapper e host e então aí a vibe de rimar já se conjuga mais. Mas curiosamente até tenho mostrado mais poesia dita e interpretada do que propriamente escrita para uma estrutura hip-hop.

DA – Um desejo para 2019…
DD – Não tenho desejos. Tenho metas!
A vida sem expectativas tem mais chances.